Canto dos pássaros

Perdi a conta de quantas vezes fui até a janela conferir. Ouvia o barulho e, sem dúvida, ele era inconfundível. Chuva caindo! Mas caía a tanto tempo que eu chegava a duvidar. Será que eu ouvia aqui dentro o que não acontecia lá fora? Por isso fui tantas vezes a janela. E em todas elas vi que a chuva continuava se jogando sobre o mundo.

Resolvi dormir mais cedo. Acho que até as pedras foram dormir mais cedo. E na manhã seguinte continuava a chover. Fui acordado pelos passarinhos. Também a chuva lhes afetava o cotidiano. Impossível dormir nos galhos da mais densa figueira. Vieram todos se apertar no madeirame da varanda. Passarinhos de variados tipos e tamanhos. Solidários e educados não brigaram e se ajeitaram de forma a ter espaço para todos os necessitados. Dormiram em um silêncio de camuflagem.

A chuva não parou. Entretanto o dia veio, porque não falta ao trabalho. Uma luz opaca cansou os olhos do gato. E a passarinhada começou a cantar. Um canto de arrancar a gente da mais gostosa das preguiças. Lá na mata até as pedras sentiam falta do canto dos pássaros.

Levantei, entretanto dessa vez não fui até a janela conferir. Se fosse ter certeza da chuva espantaria os pássaros todos com minha presença bruta. E como deve ser desagradável sair da cama tão cedo e tomar, de supetão, um banho de chuva gelada.

Foto: Reprodução/Internet

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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