A moça, o celular e o rapaz

Namoravam há uma semana. O rapaz gostou dela desde a entrevista na empresa. Moça tímida buscando sempre refúgio no celular. Aos poucos o grupo de funcionários, lhe foi fagocitando e pronto! Lá estava ela indo e vindo com eles do almoço com o celular nas mãos.

Nesse tempo o rapaz não se irritava com o celular dela. Afinal, todos iam e vinham com os celulares. Alguns nas mãos, outros nos bolsos. Era a última necessidade do homem – e também da mulher – modernos. Começaram se olhando cada vez mais. Até que em uma noite, durante a festa de aniversário da Carla do RH, ficaram juntos.

Chegou o pré-carnaval. Mas ele precisava comprar extintor de incêndio para o carro, já que a vistoria seria na semana próxima. Ela foi antes com os amigos do trabalho para o bloco. Problema algum; se encontrariam lá em um local pré-combinado. No entanto, depois de dois meses de namoro o rapaz estava aborrecido com o hábito ininterrupto da moça com o celular. Tão bonita, inteligente e sorridente, ele pensava enquanto a observava mergulhada no aparelho que segurava mais que a mão dele.

Quando ele chegou a rua estava lotada e não os encontrou no local combinado. Ligou para a namorada, mandou mensagem e nada. Pela primeira vez se enfureceu. Andou a esmo por alguns minutos até achá-los. A moça chorava sentada na calçada. Ficou preocupado.

Está passando mal? Perguntou ao se aproximar correndo. Ela bebendo um copo d’água, o rosto cheio de lágrimas, as mão trêmulas, a boca incapaz de articular palavra. Foi uma amiga em comum quem respondeu: O celular dela se espatifou no chão.

Por dentro ele gostou, mas não diria isso agora. Abaixou-se, pôs as mãos em seus cabelos e antes que dissesse algo com calma ela lamuriou: Hoje é domingo. Não posso comprar outro aparelho. Me lava pra casa? Não tenho mais clima pro carnaval.

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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