Bagunça

Livro no chão; boneca no criado mudo; garrafa vazia ao lado do filtro de barro; prato na escrivaninha; caneca no chão na beira da cama; tolha de banho esticada no encosto da cadeira; piscina de plástico aberta e vazia; pares de havaianas na boca da porta; dois, três, quatro panos de prato pela cozinha; tabuleiro esperando sabão; sobre a mesa farelo de pão; sob o armário a bolinha perereca dada por perdida; a moringa está vazia e destampada; o porta CD aberto e descomposto; o tapete da entrada tão sujo; os fios tão emaranhados; meus cabelos tão embaraçados que não caem; minhas camisas tão amarrotadas; minhas calças muito compridas.

O volume 15 da Barsa – de Teatro a Zwingli – sustentando a altura do computador; a pasta de documentos me olha segundafeiramente; a caixa de papelão do ferro de passar amassada (porque não jogamos fora ainda?); o relógio de parede está sem pilha faz uma semana; álbum de fotografias no armário do banheiro; quantos insetos para uma goiaba esquecida na fruteira!; a aspirina no bolso da bermuda caqui; moeda de cinco centavos no para peito da janela; planta seca na varanda; chuva de encharcar lá na grama; pegada barrenta de cachorro no chão da cozinha; panela cheia de farofa dentro do forno; pote cheio de amendoim mole que eu não quero descartar.

Caixa de sapato; barbeador; revista; luminária; pulseira; cristal falso; controle remoto; palito de fósforo; peteca; caneca branca; envelope; filtro dos sonhos; dedoche; fecho eclair arrebentado; um papel de bombom; outro papel desenhado; um giz de cera vermelho quebrado.

Sem dúvida legítimos sinais de uma boa bagunça!

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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