Recomeço de criança

Eu escolho um disco do Jorge Ben Jor e dou início aos festejos do dia. As crianças vão pra piscina e inventam mil formas de se divertir. Gosto do que dizem, pois ao invés de jogar qualquer coisa, brincam de todas as coisas. Mas não pensemos que concordam sempre. Às vezes ouço um ‘para com isso’ e parece que tudo para efetivamente e recomeça. Porque entre esses pequenos não há ressentimento. As crianças têm o poder de recomeçar as coisas sem as mágoas do que por um mísero instante as chateou.

Não estou junto delas, porém ouço nitidamente o que dizem. Elas inventam as palavras, inventam os sons, inventam um mundo. Ninguém precisa se desesperar não vou pedir nesse texto curto que entreguemos a direção do planeta às nossas crianças. Quero que olhemos pra elas, pra sua capacidade inventiva. Afinal, o que há nesse mundo que não foi inventado? Viver é criar modos de viver. Por isso eu grito avisando que essa – que agora usamos – não é a única forma de ser nesse mundo.

Imagino ainda que a partir de amanhã receberei um e outro email perguntando ‘então quais são as outras formas de viver ou de ser nesse mundo?’ e eis então o ponto do qual temos que nos desplugar. As outras formas precisam ser inventadas! Não estão escritas numa cartilha encontrada em um baú de prata sob o luar.

O mundo e a vida que queremos têm que ser inventados. E se as formas que conhecemos até hoje não mais nos satisfazem não devemos botar a bola debaixo do braço, abandonar a brincadeira e voltar pra casa. Devemos fazer como as crianças que nem sempre concordam, mas que têm o poder de recomeçar as coisas sem as mágoas do que por um mísero instante as chateou.

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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