Goiabão I

Na goiabeira nascida em frente à porta da cozinha o verão será farto de frutas. Uma safra recorde! Cuja produção se não anunciada em um programa agropecuário televisivo, sem nenhuma dúvida foi amplamente divulgada entre a passarinhada da região onde vivo. São tantas flores brancas se despetalando que pela manhã parece uma chuva de pingos grossos caindo. Em seguida chegam as formigas, lambem os beiços, e levam tudo para suas tocas subterrâneas.

Sei que dentre os galhos é tanta bifurcação perfeita que eu me recordo de minha infância quando saía pelo mato atrás delas para confeccionar minas setas (há garotos em outros lugares que chamam de estilingue, atiradeira). Entretanto não irei serrar a abundante goiabeira. Pois agora me interesso mais em ver os ninhos dos pássaros que desafiar um terreno baldio com uma seta na cintura.

Sei que os passarinhos se organizaram e realizaram o loteamento das bifurcações da goiabeira. O local é ótimo! Tem sombra, é seguro e em breve oferecerá comida farta a toda hora do dia ou da noite. Contudo, como é comum nas grandes aglomerações, vez em quando acontece alguma rusga. Não sei bem o motivo que os leva ao desentendimento, mas, de uma maneira ou de outra, eles acabam resolvendo suas querelas.

O que já percebi é que no início da manhã ou no fim da tarde vale a pena pôr uma cadeira e observar o conjunto habitacional de ninhos Goiabão I. São filhotes de sanhaçu, pardal, bem-te-vi e outro passarinho de nome que ignoro. São mães batendo asas inquietas e pais chegando esbaforidos com a refeição.

Os passarinhos levam uma vida cheia de trabalho sem domingo ou sábado à noite. Mas é incrível como em qualquer momento de qualquer dia abrem o bico e cantam uma melodia maravilhosa! Eu não sei o que esses bichinhos sabem; mas sei o que fazem: vivem! E seu canto é um agradecimento à vida de todo dia que começa e termina!

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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