Dia de conto de fadas

Montamos tenda com os lençóis, cabos de vassouras, paus de barracas de praia, linha de artesanato. Estávamos protegidos de qualquer tempestade, pois nos contos de fada – assim como na vida dos adultos – sempre há uma cavidade para a tormenta.

Saímos pela rua em busca de flores. Precisavam ser coloridas e o tamanho não importava. Nada de enfeite, faríamos pó mágico de fadas a partir de pétalas torradas no forno e depois trituradas com os dedos “Eu não sabia que era assim que fazia pó mágico de fada, pai. Ainda bem que você sabe!”.

Já pela tarde, procuramos nos armários algumas cangas de colorido psicodélico e leveza esvoaçante para fazer de capas. Amarradas em nossos ombros corremos pelo quintal sob a luz gostosa de uma tarde morna de inverno e o efeito produzido era inspirador. Viramos fadas, magos e bruxas detentores de poderes paralisantes, transformadores, impetuosos e incríveis. Nada podia contra nós! Nossa confiança estava estampada em nosso peito nu.

Não demorou e produzimos varinhas de condão o que nos levaram a improvisar frases rimadas que partiam de um bim salamim para desembocar em um pra mim. Conversamos sobre monstros, dragões, gigantes, piratas e fantasmas, todos, obviamente, não eram páreo para nossos poderes extraordinários.

Por fim, resolvemos ler uma história de contos de fadas: Branca de neve em uma versão antiga e fiel aos irmãos Grimm. Adormecemos dentro de nossas fantasias mágicas.

As crianças ainda podem ser crianças; e os adultos também ainda podem um dia ser crianças. E esse não será o motivo de nossas mazelas, posso garantir.

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

Você pode gostar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O limite de tempo está esgotado. Recarregue CAPTCHA.