E a Gazeta das Maritacas novamente noticiou um caso polêmico na floresta. É que os bichos todos agora comiam carne. Até herbívoro havia experimentado e gostado. Mas de onde vinha tanta carne?
Outra vez chamaram o Leão. Os Cabritos trouxeram mesa e cadeiras e até as Toupeiras vieram assistir. Os tucanos se disseram indispostos “É tanto milho transgênico hoje em dia”, reclamaram. Porém não deu tempo de saírem, pois a matilha de Cães trazia pelas penas um bem escovado Papagaio. Foi um alvoroço! E o Leão teve de rugir para acalmar o matagal.
Foram os Sapos que aconselharam o Papagaio a contar com objetividade tudo que ouviu. Pela declaração ficava claro que o Morcego era o culpado. E logo agora, recém-empossado, no cargo de donatário da capitania da floresta. Na sessão o Morcego tentava se defender, mas dizia palavras tão difíceis que mais pareciam ser ditas de cabeça para baixo.
O Elefante, debaixo de uma grande figueira, ria de soluçar. Mas, afinal, de onde vinha tanta carne? Isso a Gazeta das Maritacas não sabia, ou não dizia. Então o Leão chamou no canto o Papagaio e ofereceu: “Diz de onde é a carne que eu te alivio uma asa.”. O papagaio ouviu e pela primeira vez foi original: “Quero que me alivie as duas. De que adianta uma asa só aqui, na cova do Leão?”.
O grande felino, Juiz da floresta, passou as unhas sobre a juba e deu o preço: “Pra te premiar com duas asas preciso saber onde o Morcego esconde a carne. Esses julgamentos são longos, fico com uma fome de leão.”.
O Morcego mal conseguia se acudir. O Negócio era carne de coelho. Quando soube a coelha chorou um Amazonas. Na confusão o Leão saiu de fininho. Ninguém entendia o que as Maritacas gritavam. Disse o Morcego que não desceria do cargo. E os Cabritos não sabiam se retiravam ou deixavam as mesas e cadeiras.
Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br
