Barranco desmorona e põe casas em risco no Tangará e Jardim Brasília

Falta de espaço para trabalhar em casa é motivo para Renata não abandonar o imóvel onde mora
Falta de espaço para trabalhar em casa é motivo para Renata não abandonar o imóvel onde mora

Moradores da Rua General Prati de Aguiar, no bairro Tangará, e da Rua Vila Adelaide, no Jardim Brasília, estão com a integridade das casas em risco. Depois da forte chuva que caiu nos dias 22 e 23 deste mês, o barranco localizado atrás da casa onde mora a despachante Renata Romualdo Silva, no Tangará, cedeu junto com o muro de uma das casas da rua do Jardim Brasília, colocando sua residência – que é alugada – e a de outro vizinho em risco.

– Tudo aconteceu por volta das 19 horas da segunda-feira passada (dia 23). Eu havia saído de casa, mas outra vizinha me ligou rapidamente falando que o barranco estava desabando, e voltei em cinco minutos. Foi quando liguei para os bombeiros e depois para a Defesa Civil. Só fui conseguir atendimento quatro horas depois da primeira tentativa, por volta das 2h (de terça-feira, dia 24) – relata a despachante.

No dia seguinte ao desabamento, Renata recebeu a visita da Defesa Civil, que interditou a casa. Com isso, ela foi com as duas filhas, de 3 e 10 anos, para Visconde de Mauá, onde ficaram uma semana esperando um retorno dos responsáveis pelo muro, que fica nos fundos de uma casa da Vila Adelaide.

– Os donos tiveram até a intenção de consertar o muro, porém não conseguiram e ao chegar aqui em casa, a situação ficou ainda pior, com o muro escorado por cordas e por um bambuzal, e correndo o risco de acertar minha casa em cheio.

Com o desmoronamento, a rotina de Renata virou de pernas pro ar. Durante o dia, costuma ficar em sua casa, onde também fica o escritório de despachadoria em que trabalha. Com as férias escolares, a filha mais velha costuma ficar junto, enquanto a caçula fica em uma creche-escola no Jardim Jalisco. De noite, é obrigada a sair de casa com as filhas para dormir na casa de amigos. E se chover forte no meio do dia, são obrigadas a sair de casa na hora.

– Até poderia ir para Mauá e ficar duas semanas lá, mas não compensa por causa do meu trabalho – justifica.

Renata relembra que no dia em que sua casa foi interditada, o vizinho do lado, que também teve prejuízo com o desmoronamento, não foi encontrado pelos agentes da Defesa Civil.

No sentido relógio: vista da área de serviço nos fundos da casa da inquilina; vista do barranco que desmoronou; detalhe do muro que ameaça desabar por dentro e por for
No sentido relógio: vista da área de serviço nos fundos da casa da inquilina; vista do barranco que desmoronou; detalhe do muro que ameaça desabar por dentro e por fora

– Ele é uma pessoa muito difícil de se lidar, segundo  outros vizinhos. Nenhum serviço, nem Defesa Civil, nem agentes de saúde conseguem entrar para fazer vistoria. E tive informações de que a Defesa Civil está tentando entrar com ação judicial, me parece que a Amar descobriu que o vizinho teria cavado uns sete metros adentro do barranco em seu terreno há um tempo atrás. E ele brigou com outro morador da Vila Adelaide que teria reclamado da atitude dele – acrescenta.

A despachante conta que em quase 40 anos, desde que construiu a casa, a proprietária (que é amiga de Renata) nunca teve qualquer problema por conta de desmoronamentos. Nesta segunda-feira (dia 30) ela recebeu a visita de uma assistente social para tratar da mudança de casa.

– Mesmo que no contrato eu tenha que sair apenas com um ano de aluguel, ela me deu sinal verde para que eu decida por sair ou não, mas não gostaria porque pra arrumar outra casa será muito difícil devido às despesas e às minhas necessidades de ter três quartos e escritório, pois nesse caso um aluguel separado de sala é muito caro. Espero que o vizinho de cima consiga tirar o muro e reformar esse pedaço da casa dele, além de fazer um muro de contenção.

VIZINHO DE CASA COM MURO CONFIRMA PROBLEMA
O morador que brigou com o vizinho de Renata é o aposentado Agenor Cruz, que teve uma discussão em 2012 depois que o morador do Tangará cavou o barranco. “Aqui está um perigo, o barranco vai desabar a qualquer momento e vai derrubar o muro, esmagando as casas do Tangará. Por que? A culpa é do proprietário do Tangará que cortou errado o terreno. Ele faz o que quer, até comprou inimizade comigo. A prefeitura também tem culpa porque deu o habite-se para essa pessoa morar no local”, critica Agenor.

Ele vive há 16 anos com a mulher na Vila Adelaide, e desde então nunca teve sossego. “Aqui em cima o problema não é só com o muro, mas com várias casas daqui. Os fundos de nossa casa também estão cedendo por causa desse erro cometido lá embaixo. Arrisca a vida dele e de outros ao redor”, completa o aposentado.

A filha do aposentado, a arquiteta Sheila Cruz, revela que desde 2001 acompanha o drama do pai e vem cobrando a Prefeitura de Resende e a Defesa Civil os laudos no terreno do Tangará. “Abri um processo há 15 anos na prefeitura pedindo os laudos do barranco, mas até agora nada. Esse morador cometeu um erro grave, pois ele deveria ter cavado o barranco pra ganhar terreno em degraus e não tirando por baixo. Isso provoca uma instabilidade que pode colocar vidas em risco, tanto aqui na Vila Adelaide quanto na Prati de Aguiar”, alega Sheila.

A equipe do jornal BEIRA-RIO tentou falar com os vizinhos de Renata apontados como os responsáveis pelo procedimento que facilitou o desmoronamento do barranco, porém não obteve sucesso, mesmo tentando chamar do lado de fora.

O jornal também esteve em contato com o diretor da Defesa Civil, Atanagildo Alves, que confirmou algumas informações da vizinhança e que a Defesa Civil, junto com a Agência do Meio Ambiente de Resende (Amar), já notificou o vizinho da despachante.

– Estaremos ao lado da Amar e da Vigilância Sanitária para fazer uma vistoria, pois não conseguimos entrar na casa dele no dia em que fomos chamados, e o pessoal da agência nos informou que um engenheiro esteve no local e constatou que esse proprietário faz extração de bambu nos fundos da casa. Acreditamos que isso possa ter provocado também, além da chuva, o desmoronamento do barranco, mas estamos ainda apurando se o dono teve responsabilidade nisso – responde o diretor.

Quanto ao muro, Atanagildo frisa que os pedaços que desabaram estão sendo removidos pouco a pouco esta semana, amenizando a situação de risco ao imóvel de Renata. “Estamos acompanhando todo esse caso e prestando assistência a moradora”, finaliza.

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