As letras das músicas

As letras das músicas podem influenciar atitudes e comportamentos? Sim. E essa é a minha opinião sobre a discussão instaurada nos últimos dias, que gira em torno das letras das músicas que fazem lotar os suados e calorentos bailes funks. Longe de ser puritana ou militar pelo falso moralismo, mas em tempos de resgate ao respeito pela figura feminina, esse debate já nasce derrotado.

A música tem uma linguagem universal, irmana os espíritos, aproxima as pessoas, mexe com sentimentos e lembranças recônditas. Se não fosse desta feita, qual o motivo de se escolher músicas para serem tocadas em festividades, por exemplo? Meu marido escolheu “She”, de Elvis Costello, para minha entrada na cerimônia que consolidou nosso casamento. Ele justificou dizendo que essa deve ser a homenagem para todas as mulheres especiais. (confira aqui: https://youtu.be/cgaS9ABt-cA)

Na mesma lógica, as letras dos hinos exaltam, as das marchas militares reforçam uma cadencia e compasso que exigem ordem e disciplina, as românticas falam de amor, de saudade, de paixão; as de carnaval sugerem movimentos do corpo todo e muitas letras lembram da alegria de comemorar a vida.

Todo mundo tem seu repertório particular que lhe transporta no tempo e no espaço para aquele lugar especial onde todas as lembranças residem. Ou para o inferno. Quer um exemplo: cante “Adocica, meu amor, adocica”. Pronto, quero ver sair fácil da sua cabeça. Desculpe aí.

Todo movimento cultural é legítimo e o funk é reconhecidamente um movimento importante. Inclusive já escrevi um texto a respeito. O que é inadmissível é que seja entendido de forma errada e sirva para propagar o ódio contra as mulheres, ou seja, a misoginia, como pode ser observado no exemplo do rapper Emicida que em sua música “Trepadeira” afirma que mulher biscate (entenda sexualmente ativa) deve tomar uma surra de espada de São Jorge.

Não. Mulher é um ser humano e todo ser humano deve ser respeitado. Não se pode misturar as estações. O funk deveria dar o exemplo e ao invés da letra do grupo “ Os Havaianos” que prega que “Mulher é um bagulho doído, te ilude, te trai e fala que te ama, num dia te agrada, no outro te engana” (não, essa é uma mulher que tem falha de caráter, mas não pode representar o gênero), deveria cantar: “…mulher, mulher! Na escola onde você foi ensinada, jamais tirei um dez! Sou forte, mas não chego aos teus pés!

Ângela Alhanati
contato@angelaalhanati.com.br
Livre pensadora exercendo seu direito à reflexão

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2 thoughts on “As letras das músicas

  1. A música toca a alma…para o bem e para o mal.
    Corretíssimo o texto ao abordar intenções misóginas em algumas letras que infelizmente não se limitam ao funk…
    Transmissoras de rádio, sérias, não deveriam tocar qualquer ritmo que tenha este tipo de intenção.

  2. Maravilhoso texto. Exatamente a sociedade brasileira está deixando-se afundar e a cada dia piora. Homens e mulheres não se respeitam mais, estamos entrando numa hora obscura onde não se há esperança de luz no fim da estrada.

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