Ministério Público na tentativa de conhecer os bastidores das fraudes ocorridas nas licitações da Câmara Municipal de Resende, nos últimos anos, e prosseguir com as investigações, tenta esclarecer alguns pontos associados às denúncias recebidas, assim como entender a lógica de nomeações e assessores dos vereadores. Na investigação, o MP também tem como alvo funcionários fantasmas, depois de uma denúncia feita independente da investigação principal das licitações fraudadas, mas não menos importante e assim, como o processo que apura irregularidades na Câmara, esta denúncia também foi integrada ao conjunto de investigações da Operação Betrug.
Operação essa que afastou os vereadores Kiko, Bira e Mirim que de certa forma, ainda têm cartas nas mangas. O contrário disso, não teríamos notícias de reuniões aqui e acolá com a presença desses vereadores afastados. Dia desses, logo após uma sessão, os vereadores nem esconderam que participariam de uma reunião na casa de um CC do Executivo, segundo contam os bem informados, amigo do vereador Forastieri, no bairro Morada da Colina e pra lá se dirigiram a maior parte deles. Os vereadores afastados estão muito próximos de seus colegas edis e de certa forma acompanhando todas as ações internas da Câmara.
Sobre os “funcionários fantasmas” depois que o MP começou a investigar – e não há nada de tão especial que os próprios vereadores não saibam, até porque as solicitações de informações e peças dos processos (criminal e civil) circulam entre um gabinete e outro, entre um escritório de advogado e outro -, alguns servidores apontados, considerados assessores para “serviços externos” passaram a comparecer diariamente na Câmara, inclusive ficando por lá o horário de trabalho. Tive informação que as denúncias sobre assessores indicam alguns como nomeados dos vereadores afastados, mas também apontam, por exemplo, cargos de confiança da atual presidente em exercício, vereadora Soraia Balieiro. Uma fonte do JBR declarou que um assessor da vereadora até o escândalo, só aparecia para bater ponto. “Lá da varandinha do anexo a gente via ele atravessando, vindo do prédio quase em frente, onde realmente trabalha, assinava o ponto e minutos depois a gente via atravessando de volta para o prédio do outro lado da rua”.
Alguns cargos comissionados ligados à presidência, antes do vereador afastado Mirim, e, agora da vereadora Soraia continuam na Câmara. Há quem acredite que a manutenção destes se dá ao possível vínculo que o presidente afastado ainda mantém no Legislativo. Aliás, o vereador Mirim tentou mais uma vez, sem sucesso, retornar suas atividades, mas a Justiça negou o pedido. Os vereadores afastados repetem que estão voltando, repetem isso desde outubro, quando foram afastados. É natural que repitam e acreditem nisso, afinal é o que têm para acreditar. Por sua vez, o MP tem uma tarefa árdua, em especial, de dar continuidade à Operação que pode apontar mais vereadores afastados. Há quem acredite que a coisa pode ficar tão esquisita que não sobre Mesa Diretora para tocar os trabalhos legislativos. Nesse caso, uma nova eleição da Mesa terá que ser realizada.
Por outro lado, se o MP com uma nova ação apontar outros nomes envolvidos, a Câmara de Resende que hoje está pagando 18 vereadores, e deve pagar a 20 nos próximos dias, os suplentes deverão assumir, poderá pagar um número bem maior de vereadores: os suplentes e os afastados. Por que quem se ilude que os vereadores teriam coragem de abrir uma CPI para cassar mandatos? Ninguém né? Há também a possibilidade do MP não anunciar qualquer mudança neste momento deixando os vereadores à vontade, fazendo suas campanhas eleitorais. Afinal, ano de eleição e muitos acreditam, inclusive os afastados, que serão reeleitos. Alguns, inclusive, estão muito otimistas.
Mas o tiro pode sair pela culatra. Esse ano, me parece, será o ano da eleição dos suplentes. Eu explico: se o MP prorrogar o desdobramento da Operação Betrug, que já garantiu, continua a investigar, os vereadores ou boa parte deles, caso se reelejam terão feito, na verdade, a campanha de seus suplentes. Pois, se o MP tiver o cuidado de evitar um desastre Legislativo e deixar suas ações para o final do ano, quando alguns estiverem comemorando poderão se ver diante de uma cassação ou coisa que o valha e/ou impedidos de tomar posse. Resende realmente jamais viveu situação semelhante. Agora, é aguardar os próximos capítulos. Na próxima semana, trago mais informações sobre o dossiê da investigação da Câmara. Documento elaborado por um dos envolvidos, no maior e mais vergonhoso escândalo do Legislativo de Resende.
Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
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