Resendenses promovem ato contra o golpe

dentroResendenses se reuniram na noite desta sexta-feira, dia 18, no plenário da Câmara Municipal de Resende, para realizar um ato a favor da democracia e contra o golpe. Embora tenha sido organizado pelo PCdoB, vários participantes não eram filiados a partidos, como jornalistas e historiadores, e expressaram a importância de uma manifestação contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e contra abusos cometidos na fase mais recente da Operação Lava Jato, que dão a entender que alguns grupos sociais vem sendo beneficiados em detrimento de outras.

Logo no início do ato, o jornalista Laís Amaral falou sobre a importância da participação popular neste momento político do Brasil.

– Muitas pessoas não estão aqui por terem ido às manifestações de rua, é o país reagindo às agressões que vem sofrendo. Este aqui é um ato pela democracia, não vai ter golpe, precisamos tentar impedir esse ato contra a presidente, que é uma violência – explicou Amaral.

Foram exibidos vídeos falando sobre a importância da democracia e de lutar por ela e foi lido um manifesto de apoio à democracia que foi assinado por mais de 700 intelectuais. Em seguida, foi aberto um debate sobre a situação da política nacional. O presidente do PCdoB de Resende, Edson Henrique, que organizou o ato, falou sobre a manipulação de uma parcela da população pela classe dominante.

– Os burgueses não tem essa vivência de militância, mas conseguem  manipular a população para lutar ao lado deles, o que é muito perigoso – comentou Henrique, antes de ler parte da resolução da assembleia do PcdoB realizada em agosto de 2015, que falava sobre o quadro político que poderia se desenhar nos meses seguintes.

Rômulo Saloto, que representou a Executiva do PT de Resende, se mostrou assustado com a possibilidade de um golpe de estado semelhante ao de 1964, quando foi implantada a ditadura militar no Brasil.

– Não acredito que pelo poder das armas, mas por outros poderes corremos risco sim. A democracia está em risco. Estamos em uma câmara municipal, onde trabalham pessoas que foram eleitas pela democracia, e somente há um vereador aqui. Será que eles não deveriam defender a democracia através da qual foram eleitos? Os grupos que organizam estes atos não querem a democracia de verdade, eles querem o Brasil só para eles e o Brasil é de todos nós. Achei muito positivo esse ato ter sido convocado pelo PcdoB, porque mostra que ele se comporta muito dignamente a favor do Brasil – analisou.

O presidente do PCdoB de Porto Real, João Alarcão, que também é professor de História, fez um relato lembrando que de seus 516 anos, o Brasil viveu apenas 51 de forma democrática e salientando os objetivos do ati realizado.

– Dos seus 516 anos, o Brasil só viveu 127 como República e desses 76 como regimes antidemocráticos ou ditatoriais, ou seja, só 51 anos de governo de fato foram democracias. Ninguém é contra as investigações atuais, somos contra a partidarização do poder Judiciário. Não pode o Aécio (Aécio Neves, ex-candidato a presidente da República pelo PSDB) ser citado seis vezes e tudo isso ser arquivado enquanto qualquer coisa que afete o PT ser investigado como se o partido fosse o maior mal do mundo. Eles disseram que foram às ruas 3 ou 4 milhões de pessoas, mas o que é isso diante dos 54 mil votos dados à Dilma na última eleição? Não é nem 10%! Não estamos aqui por Lula ou Dilma, mas pela democracia – esclareceu Alarcão.

A jornalista Ana Lúcia Corrêa de Souza, que representou o Comitê pela Transparência e Controle Social de Resende (Comsocial), lembrou a importância de os problemas municipais de corrupção também não serem deixados de lado.

– Não me assusto com os movimentos nas ruas, acho muito positivo. É muito bom as pessoas se manifestando. Mas temos um problema midiático com a realidade da informação. Não é só a Globo, mas boa parte da grande mídia, e essa postura acaba atraindo as instituições. Doi quando a gente assiste a TV Justiça e vê a mesma coisa na Globo News. Sou petista há 21 anos e não é por uma necessidade política, mas porque acredito nas bases do partido. Tem corrupção em todos os cantos, não foi o PT que inventou, então temos que olhar também para dentro de casa. Em Resende tem procurador que joga bola com promotor do MP, tem juiz que almoça em Penedo com secretário. Isso não podemos esquecer – frisou a jornalista.

Para o vereador José Olímpio (PCdoB), a classe dominante está usando as investigações sobre corrupção como uma oportunidade para derrubar o governo atual, por ele ser menos elitista.

– Lula é que deu o golpe, deu um golpe na miséria, deu um golpe na falta de oportunidades, quem não tinha condições de ir para universidade foi, quem não tinha direito à casa própria teve, teve direito ao protagonismo do povo brasileiro. Ele foi capaz de dialogar com todas as classes, demarcou um novo ciclo político para o Brasil e o mundo, conseguiu convencer, colocar  o povo na pauta do Brasil. Mas (as classes dominantes) não conseguiram engolir essas conquistas que o governo construiu e usaram a Petrobras e a corrupção para tentar reverter isso. Mas mesmo sabendo disso, nosso governo se mostrou tão democrático, que a presidente Dilma deu liberdade para essas investigações, mesmo que pudesse prejudicar os seus, e não interferiu – avaliou o vereador.

Vários outros intelectuais presentes à discussão, em sua maioria não diretamente ligados ao PT, se posicionaram contra o golpe e o ato foi encerrado com vários gritos uníssonos de “Não vai ter golpe!”.

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2 thoughts on “Resendenses promovem ato contra o golpe

  1. Muito esclarecedora a fala do professor João Alarcão sobre o período que vivemos numa democracia. Por isso, sou contra o impeachment sem provas concretas contra a presidente. Ao mesmo tempo, defendo a continuidade de todas as investigações sobre a corrupção (incluindo sobre o Aécio e FHC, é claro!). Não podemos perder a oportunidade de mandar os grandes corruptos para a cadeia e recuperar alguns bilhões que foram desviados. Lembro que a grande maioria dos presos na chamada Operação Lava Jato é de pessoas da elite (donos e diretores de construtoras, políticos e banqueiros) e não do povo.

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