Moradores do Paraíso ocupam terreno da antiga fábrica de Sulfato de Alumínio

Moradores da região do Paraíso, em Resende, ocupam, desde a manhã deste domingo, dia 19, o terreno que já pertenceu à antiga fábrica de Sulfato de Alumínio, no bairro. Mais de 100 pessoas, segundo moradores vizinhos, demarcaram terrenos no local para protestar contra a falta de habitação no município e o descaso com o terreno, que está abandonado há 20 anos.

– Estamos tentando entrar para morar. Tenho seis netos e não tenho onde morar. Agora estamos tentando limpar a área. Um dois cômodos sai a R$ 500, ou come ou paga aluguel. Fiz cadastro para conseguir casa com o Noel de Carvalho, o Silvio de Carvalho, o Eduardo Meohas. Quando comecei a me inscrever nesses programas minha filha tinha cinco anos, hoje tem 28. Eu vivia de aluguel, mas hoje estou desempregada e vivo com minha mãe, tenho quatro filhos e seis netos – explicou Maria Nelma.

O protesto teria começado com um parente dela, que também tinha dificuldades de habitação e a área foi escolhida por estar abandonada e acumulando lixo, o que também incomoda outros moradores do bairro.

– Aluguel é R$ 500 para cima, então me disseram que viriam e eu decidir vir também. Agora estamos tentando limpar e está difícil, porque tem carniça, lixo, fede muito. Só vamos sair daqui quando o prefeito vier falar com a gente, enquanto isso a gente reveza – acrescentou Maria Nelma.

Após os primeiros manifestantes ocuparem a área, outros se juntaram a eles.

– Fiquei sabendo que o pessoal sem casa estava invadindo para tentar pegar um lote e vim também. Moro com minha mãe e vim na hora do almoço. Já fiz cadastro na prefeitura na época do José Rechuan, mas ainda não fui chamada – comentou Rosimeire Conceição.

O protesto está sendo apoiado pela associação de moradores do bairro, como revelou Carlos Cristino Silva.

– Eles estão junto com a comunidade. Faço parte da associação de moradores e sabemos que esse terreno está abandonado há mais de 20 anos. Tem cobras, esse mato apresenta o perigo de a pessoa ser estuprada, o pessoal usa crack , rouba lá no centro e vem armado se esconder nesse mato. O terreno estava a mercê e jogado, então quando viemos ver o que estava acontecendo apoiamos. Eles fizeram certo, porque ao menos estão limpando o terreno – avaliou Carlo Silva.

A presidente da associação, Claudelene Tavares, a Leninha, esclareceu que a intenção da associação é organizar o grupo.

– Sabíamos mais ou menos do protesto que seria organizado, mas ainda estamos tentando levantar as informações reais sobre ele. Estão tentando limpar o terreno e agindo de forma bem ordenada até agora. A grande maioria é daqui, tem parentes e amigos moradores próximos. A preocupação da vizinhança é que outros invadam, pessoas de outras cidades, então vamos fazer uma reunião com eles hoje à tarde para conversar direitinho. Mas eles estão bem ordenados, ontem estavam com faixa, cartaz – explicou Claudelene Tavares.

Algumas pessoas que trabalham fora e não conseguem limpar os terrenos ocupados durante o final de semana pediram a outros moradores que fizessem o serviço, inclusive gerando renda durante a manifestação.

– Dá para ganhar meu dia. Trabalho de pedreiro e consegui uma graninha extra. Tenho casa, graças a Deus, mas se mais alguém me oferecer limpo também, quero emprego. Acho que vai  ficar melhor, ficou muitos anos relaxada essa área, com lixo, abandonado, sem muito lixo é bom para a comunidade – opinou  Maurício Diniz, que foi pago para limpar um dos terrenos.

A ocupação gera polêmica entre os moradores do bairro. Muitos deles, além de Maurício Diniz, são a favor do protesto.

– Acho que a rua inteira é a favor. Moro em frente e todos nós estamos limpando com eles, porque esse terreno estava sempre sujo. Uma moça tem a cobra que achou em casa, que veio daqui. O pessoal que invadiu está cercando, ajudando a limpar, e é tudo gente do Cabral, Paraíso, Morro do Cruzeiro. Vamos ver o que vai rolar, mas a gente está vindo e limpando porque aqui tinha virado lixão, se eles tirarem a sujeira para nós é ótimo. Antes era caminhão entrando e saindo, até a prefeitura jogava lixo aqui – disse Joel Santos Souza, ao lado de mais dois vizinhos.

– A prefeitura só limpa a rua, não entra no terreno, e o pessoal está entrando. Eles são todos gente que paga aluguel, tudo cria do Cabral e Paraíso, então apoio. O Paraíso inteiro não tem para onde crescer, por causa da Aman, acho até um desperdício um terreno desses assim – concordou Widson Moreira Martins.

– Acho ótimo terem ocupado, pelo menos vão fazer algo. Moro aqui há 46 anos e é carniça de tudo quanto é tipo que eles jogam aí, além de coisa de mercado estragado. Fede muito. A prefeitura de vez em quando passa a máquina, mas só na frente. Tem terreno ocupado até o final da academia – disse Pedro Carvalho de Souza.

O protesto, contudo, não é uma unanimidade. Alguns moradores não veem com bons olhos a ocupação.

– Sou contra, vai virar favela. A maioria que pegou terreno é pessoal que não precisa, não deveriam ter entrado mesmo – opinou o morador, que preferiu não se identificar.

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