Sociólogo defende atitudes proativas em busca da paz

Todo final de ano as pessoas usam roupas brancas e celebram desejando e pedindo a paz para o ano seguinte. O ano, aliás, já começa com um feriado internacional que celebra o Dia Mundial da Paz. Por que, então, a paz nunca é alcançada? Para o sociólogo Gilberto Caldas, são necessárias mais atitudes proativas.

— Só ficar vestindo branco e fazendo passeata não resolve. Ninguém é contra alguém que ponha uma bandeira na janela e vista branco, mas isso não leva a nada. O movimento pela paz é ativo. Alguns movimentos fazem estas passeatas pacíficas como se a paz fosse acontecer e marcam presença contra a violência. Mas a violência precisa ser combatida e desconstruída e isso não é um movimento inativo – avaliou Caldas.

Um exemplo de movimentação ativa pela paz, segundo o sociólogo, foi a Independência da Índia. O país era colônia da Inglaterra e conseguiu se libertar a partir das manifestações pacíficas lideradas por Mahatma Ghandi, que promoveu caminhadas e greves de fome. Além disso, no entanto, atacou a Inglaterra onde ela mais poderia chamar a atenção: em sua Economia.

— Ele provocou a população indiana a ter posturas proativas de contrariedade e confronto com o dominador, no caso a Inglaterra. Na ocasião, a Índia importava tecidos da Inglaterra e era um comércio que se fosse interrompido causaria o desemprego de muita gente. Então Ghandi convenceu os indianos a não mais comprar tecidos da Inglaterra. Comprou máquinas e os mostrou que poderiam fazer o seu próprio tecido. Ele mexeu com a Inglaterra sem dar um tiro – exemplificou o sociólogo.

Para ele, a paz não nasce com as pessoas, mas é uma construção cultural e quando as pessoas não a percebem como uma construção acabam não lutando por ela.

— Na opinião dos pesquisadores, a violência não é um problema nacional, é mundial. A humanidade está muito violenta e liberando seus instintos agressivos e não é só no Brasil. E esta não é uma tendência da sociedade moderna, mas da humanidade. Ela já evoluiu muito, somos menos bárbaros que os clãs e tribos que devastavam territórios e escravizavam pessoas, mas só evolui quando entende que a paz precisa ser construída, trabalhada – acrescentou.

Ele também criticou leis como a do Estatuto do Desarmamento, que proíbem que os cidadãos andem armados, por acreditar que elas escondem a real necessidade, que é pacificar o cidadão.

— Quem mata não é a arma, é quem está por trás dela, quem está praticando a violência não são os instrumentos usados pelo homem, é o homem. Então não adianta proibir arma, revólver, faca. Precisa é investir na Educação, transformar a mente humana. A violência é algo imaterial, mas a raiz dela é a falta de Educação, de respeito, que é o que precisa ser combatido – justificou.

Nas palavras de Gilberto Caldas, a Educação é um processo vivido pelo ser humano durante toda sua vida, iniciado na família e complementado na vida em sociedade. Entre as principais lições deste processo, na luta por uma Cultura de Paz, está a valorização da vida.

— É difícil a gente valorizar o que está em nosso entorno. A gente não valoriza o ar que respira, o sol que permite que a gente viva e não fazemos nada para que isso exista. Não valorizamos a chuva que irriga o solo porque temos água farta à disposição. Mas precisamos valorizar o que está disponível e entender que existe um equilíbrio entre essas forças. É uma questão de modificar os hábitos e as atitudes. Quando valorizamos a vida, por exemplo, não matamos, poderíamos não ter usado algumas de nossas tecnologias para destruir vidas – enumerou.

Sobre as manifestações de ódio e intolerância política e religiosas observadas principalmente nas redes sociais durante o ano de 2014, ele também atribui à falta de valorização da vida e ao fundamentalismo.

— Quando sou fundamentalista, vale o que penso, sou beligerante, não aceito o próximo. E se não valorizo a vida, acredito que o outro é um obstáculo que posso remover e sou violento, porque não respeito a vida do outro. Volto ao tempo das cavernas. Todo homem tem instintos, mas o equilíbrio e o controle sobre ele são desenvolvidos na época da escola – detalhou, ressaltando o que entende por escola:

— Escola é um processo de educação que não acontece necessariamente entre os muros da escola, mas é todo o processo em que o ser humano interage. Somos seres de imitação, por isso falo do exemplo, que é o maior processo de educação, não apenas a transmissão de conhecimentos. Paz se conquista, não se ganha – salientou.

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