Draga para limpar Lagoa do Mirante funciona pela primeira vez

A draga construída pelo aposentado Antônio Albino Filho, o Velho do Lago, para limpar a Lagoa do Mirante foi ligada na lagoa pela primeira vez, na manhã deste sábado, dia 11. O equipamento usa um motor de caminhão para retirar o lodo e a sujeira do fundo da lagoa e jogá-lo para fora da água e demorou seis meses para ficar pronto. Na cerimônia, o grupo Amigos do Lado, criado por Antônio há mais de 10 anos, ajudou a colocar o equipamento em ação pela primeira vez.

– O senhor Antônio tem um jeito meio de louco, mas é muito consciente. Esse trabalho aqui era uma coisa para prefeitura e Inea (Instituto Estadual do Ambiente) estarem fazendo, mas eles não fazem e ainda ameaçam quem faz. Tem local dessa lagoa que deveria ter 3 metros de profundidade e tem 40 centímetros. Chegamos a tirar cinco sacos grandes de garrafas pet da lagoa, ninguém a limpa. O seu Antônio conseguiu eliminar o esgoto da lagoa, ela não é mais poluída, o lixo quem recolhe somos nós, não tem iluminação noturna. Queremos que todos se conscientizem sobre a importância de preservar essa lagoa – disse uma das Amigas do Lago, a podóloga Patrícia Malu Andrade.

O deputado estadual eleito Gláucio Julianelli (Psol) e a vereadora Soraia Balieiro (PSB) também participaram do evento, que reuniu moradores do bairro Mirantes das Agulhas, simpatizantes da causa ambiental, representantes da Igreja Católica e da Comissão Ambiental Sul e muitas crianças.

– O vovô tem que limpar essa lagoa, porque a água fica suja – comentou uma das netas do Velho do Lago, Lara Carvalho Albino, de 5 anos.

Ela acompanhava alguns primos, entre eles João Lucas, de três anos.

– Apesar de tudo estamos aqui pela caminhada do vô dele. Desde mais nova já o acompanhava,  trago meu filho para  saber que tem que preservar a natureza. Vindo dele (Antônio), tudo a gente acredita que vai ser possível – comentou a nora do aposentado, Priscila da Silva Corrêa, e a mãe de João Lucas.

Além dos amigos e familiares, pessoas com grande conhecimento da causa ambiental lembraram a importância do trabalho realizado pelos amigos do lago.

– Falta de água não é só São Paulo, Rio também. Essa ideia de participação e ter crianças é bem válida, lamentavelmente a sociedade não preserva. Mais de 40% dos seres vivos que dependem de água já morreram e a previsão da ONU é que 50% da população da África vai morrer por falta de água nos próximos anos – alertou Délio Guerra, da Comissão Ambiental Sul.

A Paróquia Sagrada Família se fez representar pelo Padre Inácio José do Valle, que frisou que a paróquia também realiza trabalhos voltados para o Meio Ambiente há mais de 10 anos.

– O senhor Antônio é da nossa comunidade e estamos aqui por mil fatores ecológicos. Trabalhamos há mais de 10 anos nesse contexto, a própria Cúria Diocesana é muito forte nesse contexto de preservação e trabalhamos para que o povo se conscientize sobre a importância de preservação do Meio Ambiente – explicou o padre.

O grupo se encontrou em frente à casa de Antônio Albino e saiu de lá carregando, além da draga, as ferramentas usadas nos cerca de 14 anos de trabalho de limpeza do reservatório de água. Ao chegar à lagoa, a draga foi colocada em uma balsa, posicionada com o auxílio de cabos de aço, e o grupo começou a tentar fazê-la funcionar. Como ela havia sido testada em ambiente seco, entrou ar e assustou os moradores pela demora em funcionar. Mas assim que o ar foi retirado e o motor ligado, ela começou a puxar o lodo do fundo do lago e mostrou que tem plenas condições de desassorear o local, como era previsto.

– Tô sentindo firmeza nesse trabalho de preservação dessa lagoa, mas reforço a importância de uma parceria entre as autoridades e a comunidade para trabalhar em prol do Meio Ambiente. Agora precisamos apenas melhorar a tubulação para conseguir transportar o lodo e o material que serão tirados do fundo da lagoa, acho que precisa de uns 80 metros de tubulação – explicou Albino.

Antônio e os Amigos do Lago divulgaram a intervenção em várias escolas na esperança que as crianças preservem o Meio Ambiente, já que para eles é importante que as crianças tenham exemplos para se espelharem.

– Não esperava chegar nesse ponto de a sociedade ter que fazer uma intervenção para fazer um trabalho desse, ainda acho que as autoridades devem ajudar. Mas a gente tem que dar uma resposta para essas crianças e adolescentes que estudam sobre Meio Ambiente na escola. Eles saem e vem uma realidade completamente oposta. Perto do posto da Grande Alergia, por exemplo, tem um esgoto a céu aberto. Não está coerente com o que se ensina para a criança dentro de sala de aula – lamentou o Velho do Lago.

Mas se as preocupações do grupo são a nova geração, alguns dos pequenos já mostram que a semente seu frutos que começam a crescer.

– Aprendi na escola que a folha dá oxigênio para a gente, então parei de arrancar folhas e flores. Recebi o convite para vir aqui hoje porque sou Vicentino, mas eu queria vir porque já conhecia e já fiz piquenique aqui, então minha mãe me trouxe, porque eu moro no Toyota. Eu gosto disso e quando eu crescer vou fazer um reflorestamento, que é plantar novas árvores, para dar mais oxigênio para a gente respirar – explicou Julio Ribeiro Nogueira, de oito anos, mostrando que ainda há esperança para o Meio Ambiente e que o trabalho dos Amigos do Lago pode não estar sendo em vão.