Jovem de Resende é destaque em esporte estreante nas olimpíadas de Tóquio

Com resultados expressivos em competições (na foto, um terceiro lugar no Chile), João Felipe (no detalhe e escalando) é o primeiro representante da escalada esportiva na região (Foto: Divulgação)

Até o próximo domingo, dia 8, acontece na cidade de Rosário, na Argentina, os Jogos Sul-Americanos da Juventude. E dentre as equipes participantes está a Seleção Brasileira de Escalada Esportiva, modalidade que recentemente estreou nos Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão, no ano passado.

E como não poderia deixar de acontecer, Resende, um município muito procurado para a prática da escalada em locais como o Parque Nacional do Itatiaia (PNI) e o Parque Estadual da Pedra Selada (Peps), tem um representante na delegação do esporte junto ao Time Brasil que se encontra presente na cidade argentina. É o jovem atleta João Felipe Barbosa, que pratica a modalidade desde os 3 anos e é filho de um apaixonado pela escalada.

– Comecei a prática da escalada no murinho de treino que meu pai tinha em casa, desde os três aninhos eu já brincava no murinho que ele tinha montado para treinar e desde cedo o acompanhava nas idas para a montanha. A paixão pela escalada foi tanta que meu pai abriu uma escolinha de escalada, a Gravidade Zero, em Resende e aí que eu comecei a treinar mais sério e participar das competições de escalada pelo Brasil, desde os 8 anos – diz o atleta, também nascido e criado em Resende.

Atualmente, João Felipe tem 17 anos e pratica as modalidades de boulder e guiada nas competições. Recentemente, foi três vezes convocado pela Associação Brasileira de Escalada Esportiva (ABEE) para representar a Seleção Brasileira sub 20 em eventos internacionais. A primeira participação aconteceu no Pan Americano de escalada, no Equador, competindo no combinado das três modalidades: Boulder, Guiada e Velocidade, em 2019.

Já em 2022, conquistou em março a medalha de bronze no Campeonato Sul Americano de Escalada, que aconteceu em Santiago no Chile, e agora em abril foi convocado também para os Jogos Sul-Americanos da Juventude, terminando sua participação em oitavo lugar.

– A rotina na véspera da competição foi de concentração, exercícios de mobilidade corporal e descanso para chegar com tudo na competição. O trabalho pesado já havia sido feito nos meses que antecederam ao evento. Infelizmente meu desempenho não foi o meu esperado no evento, eu vinha de um evento anterior, onde consegui o terceiro lugar e vim confiante buscar uma medalha, mas dessa vez não deu. Mas estou feliz com a oportunidade, dei duro e agora é voltar pra casa com a experiência na bagagem para buscar a próxima medalha – avalia João Felipe.

Atleta ficou em oitavo lugar nos jogos Sul-Americanos da Juventude, em Rosário (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Atual campeão brasileiro Juvenil A (16 a 17 anos), o atleta resendense também foi sete vezes campeão brasileiro da categoria e seis vezes campeão estadual. O fato de morar na cidade proporciona uma condição privilegiada para que o mesmo consiga a prática da escalada, não apenas em ambientes indoor, como também nos picos da região montanhosa da Região das Agulhas Negras, onde já teve a oportunidade de escalar a via Cocoon, no município vizinho de Passa Vinte/MG, e a via Três Patetas, na Pedra Selada.

João escala e treina na escola fundada pelo pai, e este ano o objetivo é se destacar no ranking da categoria Pro Adulto e escalar mais boulders na pedra. Ele explica sobre as diferenças na preparação para a prática da modalidade em ambos os ambientes.

A escalada esportiva e principalmente a escalada de competição demandam um treino físico muito intenso e diversificado. As demandas são muito diferentes de um escalador que escala no Parque Nacional do Itatiaia, que precisa de um conhecimento de procedimentos mais apurado e um preparo físico mais generalizado, mas não necessariamente visando desempenho – lembra o atleta.

Ele explica que na escalada esportiva, devido aos estilos mais modernos de escalada de competição, existem diversas técnicas de treinamento no muro de escalada indoor. “Como as rotas são montadas sempre com objetivo de desafiar os escaladores, estamos sempre vendo muitas mudanças nos estilos e exigindo treinos também sempre muito diversificados e atentos às novas técnicas, ou até técnicas mais antigas em paredes mais verticais até mesmo positivas, onde o equilíbrio e confiança nos pés são importantes”, cita o atleta, acrescentando que o Parque Nacional do Itatiaia serviu de escola para seus treinamentos.

– Lá a escalada lá exige uma técnica de escalada apurada, mais difícil de se desenvolver dentro do ginásio. Mais ainda há muitas outras exigências para a alta performance na escalada de competição, treinos de mobilidade corporal, treinos de fortalecimento geral, desenvolvimento do fator mental que é muito importante em uma competição, etc.

A exemplo da maioria dos esportes praticados no Brasil, João Felipe aponta que ainda são necessárias melhorias nos locais de treinamento, mas que o país está no caminho certo. “Para que o esporte se popularize e ganhe competidores de alto nível no Brasil precisamos de estrutura para a prática e treinos, como ginásios modernos de escalada, e digo que estamos no caminho certo, sendo observado um aumento considerável dos ginásios de escalada mais modernos no Brasil. Um fator determinante que também tem melhorado são os fabricantes de agarras de escalada, sendo que hoje já podemos contar com produtores nacionais de qualidade”, opina.

Mas o jovem resendense defende que a melhora de estrutura e mais ginásios comerciais de escalada podem ajudar a escalada esportiva a se popularizar e aumentar o número de praticante, mas que há necessidade de manter o interesse dos jovens na prática da escalada esportiva.

Atleta pratica escalada desde os 3 anos, e costuma se aventurar nas montanhas da região (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Isso aumenta nossas chances de revelar competidores de alto nível, são mais atletas para selecionar os melhores, mais atletas com quem treinar, e até mesmo manter o interesse na escalada indoor a longo prazo. O investimento na escalada de base é essencial, os atletas têm a oportunidade de praticar o esporte desde cedo. É o que vemos lá fora, os grandes nomes praticam desde crianças, mas também é preciso manter o interesse da criança e do adolescente no esporte, e isso vai acontecer com o aumento do número de praticantes, pois no meu caso eu me animava porque meu pai, minha irmã, iam escalar comigo, mas raramente haviam outras crianças da minha idade escalando também – relembra.

João Felipe acompanhou a estreia da escalada esportiva em uma olimpíada, e avalia a primeira participação dos escaladores em um evento com mais de 100 anos de existência.

– Foi extremamente emocionante ver a escalada no mais alto palco do esporte mundial, nem eu imaginava quão emocionante seria acompanhar o evento. Como primeira participação do esporte foi necessário determinar um formato ao qual os atletas tiveram que se adaptar para participar das olimpíadas que foi um combinado das modalidades de boulder, guiada e velocidade, sendo que a última modalidade não era praticada pela grande maioria dos destaques internacionais de boulder e guiada, o que gerou certo desconforto. Porém, com essa necessidade de treinar a escalada de velocidade para a participação nas olimpíadas, pudemos apreciar como nosso esporte é dinâmico e adaptável – conclui.

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