Colônia de pescadores do Funil sofre com descaso e ameaça da fonte de renda

As três fotos acima mostram como as plantas invasoras se “apoderam” do espaço onde ficam as gaiolas de peixes, já mortos

Na última segunda-feira, dia 13, pescadores que retiram seu sustento das águas da Represa do Funil, em Itatiaia, receberam a visita do deputado Noel de Carvalho (PSDB), e expuseram ao parlamentar a preocupação com a proliferação de plantas aquáticas no local. É que segundo os integrantes da Colônia Z-25 RJ, o acúmulo das plantas já matou 10 mil tilápias, causando um prejuízo de R$ 200 mil a eles, e que o problema tem se agravado com o passar dos meses.

Chamadas de macrófitas, alfaces d’água ou aguapés, essas plantas funcionam como um filtro e limpam a água. No entanto, dificultam a entrada de luz solar na água e acabam com o oxigênio dos peixes, uma vez que a proliferação delas toma conta do espelho d’água da represa, que parece uma grande área gramada. “Tem sido muito difícil essa limpeza para nós pescadores. Jogamos a rede pela manhã numa área limpa e à tarde quando voltamos está tudo tomado em volta das gaiolas”, explica o pescador e presidente da Colônia Z-25 RJ, Roberto Rodrigues da Rocha.

Para os pescadores, as macrófitas estariam se formando nas barragens da usina hidrelétrica de Queluz, no estado de São Paulo. “Há um ano, a gente não tinha o registro desse tipo de planta por aqui, por coincidência começou a acontecer depois que construíram as barragens em Queluz e elas passaram a funcionar. Essas plantas começaram a aparecer por aqui, e em uma velocidade cada vez maior devido a sua rápida reprodução”, diz Roberto.

Isso não só prejudica a pesca, mas também coloca em risco as atividades da Usina do Funil. Outra preocupação dos pescadores é com a possibilidade da entrada da vegetação em uma turbina, por exemplo, causando problemas energéticos. Como se não bastasse o problema da macrófita, outra ameaça aos pescadores e ao meio ambiente locais é a ação de pessoas de fora (e até mesmo de alguns pescadores profissionais) que costumam pescar de forma indiscriminada na represa durante o período do defeso.

– Aqui não existe uma fiscalização adequada, nem no estado do Rio nem no de São Paulo (onde fica 10% da represa), para coibir o desrespeito ao período do defeso. Aqui tem pescadores de fora e até profissionais, que mesmo recebendo o auxílio-defeso querem pescar entre novembro e fevereiro (período de duração do fenômeno de reprodução dos peixes, conhecido como piracema). Para que não haja prejuízo, nós da colônia recebemos um salário mínimo durante os quatro meses do defeso. Até pesca de arrasto, que é ilegal, foi vista por aqui – acrescenta.

Roberto defende uma fiscalização mais rigorosa, inclusive entre pescadores profissionais, onde estes perderiam o benefício do defeso e até mesmo a licença para a prátca da pesca profissional, e alerta para um problema ainda maior caso não haja uma tomada de providências. “A gente já vem sofrendo com essa pesca indiscriminada, daqui a quatro ou cinco anos os peixes da represa acabarão sendo extintos caso isso não seja fiscalizado no período do defeso”, cita o presidente da colônia, que lamenta a falta de apoio das autoridades.

– Essa colônia foi fundada aqui em Itatiaia em 15 de maio de 1991, portanto há 30 anos. Até hoje nunca foi feito nada por nós por parte das autoridades daqui nem mesmo de órgãos do governo federal, sempre participamos de eventos voltados ao desenvolvimento da pesca, das políticas públicas em nossa área, mas nesses 30 anos sequer tivemos alguma ajuda pra solução desse nosso problema da macrófita ou mesmo de uma fiscalização no período de defeso – completa.

Noel (ao centro) esteve visitando o local ao lado de alguns pescadores

Atualmente, a Z-25 RJ conta com aproximadamente 200 pescadores de diferentes municípios dos estados do Rio de Janeiro (Resende, Itatiaia, Barra Mansa) e de São Paulo (Queluz, Cruzeiro, Areias, São José do Barreiro) que dependem da pesca para sobreviver. Além disso, a colônia registra anualmente, em média, a pesca de seis toneladas de peixes que levam até um ano e meio para estarem no ponto de abate.

Sensibilizado com o problema dos peixes mortos devido ao aparcimento das plantas, o deputado aproveitou para falar das providências que pretende tomar junto a órgãos competentes.

– Depois de ver a difícil situação dos pescadores que dependem do lago da represa de Funil, já estou solicitando uma agenda com a Fundação Instituto de Pesca do Estado do rio de Janeiro (Fiperj), com o Insituto Estadual do Ambiente (Inea), se for necessário pedirei nova audiência com o secretário Pampolha (secretário estadual de Meio Ambiente) e não vou deixar de comentar com o governador pedindo atenção já na próxima segunda-feira (dia 20) em encontro já agendado. Esse assunto afeta os trabalhadores e afeta o meio ambiente. É preciso mapear de onde estão vindo essas plantas aquáticas que acabam se acumulando e proliferando mais ainda as margens, fechando por completo as gaiolas dos pescadores e matando os peixes – espera o deputado.

ACESSO PRECÁRIO
Em funcionamento há mais de 50 anos sob a administração de Furnas, a represa do Funil, na verdade chamada de Usina Hidrelétrica de Funil, abrange municípios como Resende e Itatiaia, e garante suprimento de energia elétrica aos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo com capacidade total de 216 MW. Além dos problemas enfrentados pelos pescadores, o local também sofre com a infraestrutura precária da via de acesso ao local, feita pelo município de Itatiaia, já que a mesma se encontra esburacada.

O jornal BEIRA-RIO entrou em contato com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e questionou sobre o problema do desrespeito ao período do defeso; com o Ibama para questionar sobre o problema das macrófitas e com Furnas para questionar sobre a estrada em mal estado de conservação, e segue aguardando respostas dos três órgãos públicos sobre os três assuntos.

Fotos: Divulgação

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