Moradores de Mauá criticam projeto da PMR: “Há uma falta de consulta popular”

O temor dos moradores: projeto pode descaracterizar área em torno da principal igreja da vila (Foto: Divulgação)

Na última sexta-feira, dia 27, em sua postagem nas redes sociais, o prefeito de Resende, Diogo Balieiro, anunciou que havia assinado junto ao Governo do Estado do Rio de Janeiro um termo de cooperação técnica para a construção de uma área de lazer na entrada da Vila de Visconde de Mauá, onde há, além da igreja, um campo de futebol e um pequeno parque. Segundo o projeto apresentado pelo próprio prefeito em sua página, com as obras o local ganhará iluminação completa de LED, bancos, mesas, bicicletário, parque infantil com gramado sintético, área com churrasqueira, vestiários com banheiros adaptados, uma academia de ginástica completa, novo paisagismo e mesa de jogos.

O projeto, que aparentemente poderia agradar comunidades de outros bairros, distritos e localidades mesmo sem uma conversa de autoridades com a população, vem sendo alvo de críticas dos moradores do local, que é um dos pontos turísticos mais visitados de Resende exatamente pela falta de diálogo entre o grupo de Balieiro e aqueles que vivem na vila. Na mesma postagem do prefeito, é possível acompanhar vários comentários, a maioria criticando o modelo do projeto.

Construção de quiosques é um dos motivos de críticas ao projeto (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

– Essa intenção de construir uma praça na frente à igreja, realmente eu achei o projeto de mau gosto, pois não condiz com o nosso objetivo de ter aqui uma área de espaço Verde, pois somos da Mantiqueira. A igreja é tombada, ali temos casas centenárias. Se quer fazer uma praça à frente de uma igreja, ela teria que ter bancos e um anfiteatro, por exemplo. Nada contra a realização do projeto, não é isso o que a gente questiona, o problema é que a prefeitura lançou esse projeto sem ter feito uma mínima consulta a todos nós moradores. Foi uma falta de respeito – responde a artesã Yeda Monteiro, moradora de Mauá há 13 anos.

Sua opinião é compartilhada por outras moradoras da localidade, entre elas Sonia Bitencourt, moradora do Lote 10. “Há uma falta de consulta popular, de ouvir a nossa comunidade. Este projeto é urbano e não atende nossa cultura, nosso modo de viver, pois “mata” nosso cartão de entrada, descaracteriza nossa região”.

É o que também pensa outra moradora, Patrícia Carvalho. “Não queremos grama sintética, e precisamos que a entrada da vila seja preservada pra quem vem chegando e não tenha alvoroço e carros pra todo lado. A entrada é o cartão de visitas de todo lugar. Nossa região é linda e nossa entrada tem que preservar o que há e o que é a natureza. Estamos precisando dar para os jovens opção de lazer e quadras de futebol já temos uma em frente a escola estadual. Precisamos cuidar e melhorar o que temos e não largar o que existe pra lá e fazer outra. Teremos engarrafamento na única entrada que serve aos três municípios”, diz a moradora, preocupada com o movimento de turistas e outros visitantes.

Sônia também chega a sugerir uma outro espaço para a construção da área de lazer. “Esse projeto poderia ser feito no Campo do Lote 10. E antes de tudo, respeitando as pessoas através de consultas para conhecer nossas necessidades”.

A artesã também defende o diálogo com os moradores para a definição de como será a área de lazer. “Temos outras prioridades, porém se querem realmente concretizar uma área de lazer voltada aos moradores a gente pode conversar sobre isso, pois precisamos de uma pista de skate; de um programa de saneamento básico, porque a região cresceu muito nessa pandemia, ainda mais que a gente teve um boom imobiliário aqui. E nos preocupamos com a água, já que tivemos um período de seca e de queimadas e a gente precisa de uma equipe de salvamento dos bombeiros aqui. São coisas importantes para gente, não é só para inglês ver. Uma churrasqueira e grama sintética? Para com isso!”, completa Yeda.

RISCO DE DESCARACTERIZAÇÃO
Outra entrevistada do jornal BEIRA-RIO é a professora Paloma Carreño. Ela trabalha no Colégio Estadual Antônio Quirino, citado por Patrícia. A educadora aponta um problema muito comum nas gestões políticas em todo o Brasil e que vem se repetindo nesse caso com a comunidade de Mauá.

– A falta de organização da sociedade civil traz um vácuo das reais demandas da população. Assim o poder público no Brasil não tem um raio X verdadeiro das necessidades da população, não sabe onde investir e o que fazer com o dinheiro. Isso gera uma série de obras chamadas “eleitoreiras” ou seja, obras que não irão resolver problemas reais. Na minha opinião, a área de lazer proposta pela PMR é mais uma destas obras. Pois não condiz com as verdadeiras demandas da vila de Visconde de Mauá. E acredito que as críticas vem neste sentido, de ser um projeto que não é fruto de demandas reais da comunidade de Mauá.

Para ela, outros locais poderiam ser utilizados para o projeto da prefeitura. “O projeto será realizado em um local que a comunidade já utiliza. E a Vila conta com inúmeros locais ‘livres’, que poderiam ser agregados à comunidade pela obras da prefeitura, melhorando as áreas de lazer da vila. Além disso, a proposta não diversifica a oferta de esporte na região e sim investe novamente no futebol, deixando de lado esportes como skate, patins, escalada, vôlei, basquete, etc. Uma quadra poliesportiva é uma real demanda da comunidade. O passeio proposto no projeto, entorno do campo de society, caberia muito melhor em outra área da Vila como as margens do rio Preto”.

A professora finaliza destacando a necessidade de um planejamento que contemple a preservação ambiental e histórica da vila. “A Vila de Mauá é histórica, foi palco de um núcleo colonial de 1908 à 1916. Ainda hoje a vila guarda resquícios deste passado, como a Igreja e as casas antigas. Qualquer projeto que seja feito neste núcleo deve ser muito bem planejado a fim de não descaracterizar este passado. Além disso, o ar bucólico deste local é o cartão postal da Vila de Mauá e a entrada principal de toda a região turística de Visconde de Mauá. As mudanças neste local terão impacto em toda a região. O projeto propõe churrasqueiras publicas neste local, o que impacta o perfil turístico da região”.

PRAÇA OLIVEIRA BOTELHO
Outro ponto do município que também tem previsão de ser revitalizado após a assinatura do termo de cooperação técnica com o governo estadual é a Praça Oliveira Botelho, onde fica a Igreja da Matriz. O cronograma prevê a reforma completa do local, com a manutenção do sistema de drenagem, reforma de todo projeto de paisagismo, além de uma nova pavimentação, iluminação completa e implantação de bancos e mesas.

O jornal BEIRA-RIO entrou em contato com a Prefeitura de Resende, que até o momento não se pronunciou sobre as críticas dos moradores da vila de Visconde de Mauá contra o projeto.

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