Por que nem todas as grávidas devem se vacinar contra a Covid-19?

O Ministério da Saúde manteve nesta quarta-feira, dia 19, a orientação feita na semana anterior para a vacinação apenas para grávidas e puérperas (até 45 dias pós parto) com comorbidades, e divulgou uma nova orientação com base em nota da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), publicada no mesmo dia, para que as mulheres que fazem parte desse grupo, mas sem comorbidades, já vacinadas com a primeira dose de qualquer das vacinas utilizadas no Brasil só concluam o ciclo de imunização após o puerpério.

O anúncio acontece uma semana depois que a pasta da Saúde divulgou no último dia 10 um evento adverso em que uma gestante de 35 anos e o bebê que esperava morreram após ela ser vacinada com a primeira dose da Oxford/AstraZeneca no Rio de Janeiro. O caso continua sendo investigado e o uso dessa vacina nas gestantes também segue suspenso por esse motivo.

A nota aponta que a morte foi provocada por uma Síndrome de Trombose com Trombocitopenia (TTS), que tem causa possivelmente associada a vacinas de vetor viral não replicante (que não causa a doença). A síndrome, de ocorrência extremamente rara (que registrou inicialmente na Europa uma incidência a casa 100 mil doses administradas do imunizante da AstraZeneca), provoca coágulos sanguíneos no cérebro ou no abdômen e abaixa o nível de plaquetas do sangue de 4 a 28 dias após a imunização, sendo a maioria dos imunizados afetados adultos com menos de 60 anos, e que até então não havia caso registrado em grávidas. Ainda assim, a Anvisa lembra que a gestação é uma condição com risco aumentado de eventos de trombose e sangramento, mas que ainda não há evidências de que seja fator de risco para a TTS, apenas pessoas com casos prévios de trombocitopenia (baixo nível de plaquetas no sangue) e usuárias da heparina (uma droga anticoagulante).

Além disso, ainda que alguns estudos com os imunizantes contra a Covid-19 não comprovem efeitos adversos na gestação nem riscos aumentados de complicações em outras grávidas já vacinadas, a nota destaca que “a segurança e eficácia da vacina AstraZeneca não foi completamente avaliada em gestantes” devido ao fato dos testes sobre os efeitos da imunização contra Covid-19 nas gestantes terem começado a ser realizados tardiamente, uma vez que a prioridade emergencial dos estudos foi incluir em especial idosos e adultos com maior risco de agravamento com o contágio do vírus.

Os primeiros estudos apontam que o maior empecilho para as grávidas são os imunizantes com vírus vivos atenuados devido aos riscos que o componente possa oferecer aos bebês, fazendo com que as vacinas não sejam indicadas a esse público. Mas a nota da Anvisa, assim como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (Figo), recomendam a vacinação das futuras mamães e daquelas que deram a luz em menos de 45 dias.

Duas pesquisas, uma em Israel e outra nos Estados Unidos, trouxeram resultados preliminares e animadores para os que defendem a vacinação. O estudo israelense concluiu que as vacinas da Moderna e da Pfizer são eficazes e produzem anticorpos que podem ser transmitidos ao bebê pelo leite materno. O norte-americano foi feito com cerca de 130 voluntárias, com esses mesmos resultados, além desses anticorpos também serem encontrados no sangue do cordão umbilical.

POR QUE O BRASIL COMEÇOU A VACINAR?
A despeito dos estudos tardios realizados em grávidas, o alto risco de contágio pelo coronavírus em todo o Brasil, fora os indícios de que gestantes também correm um risco maior de complicações de saúde pela Covid-19, são fatores que motivam a recomendação a vacinação nas gestantes e puérperas, pelo menos no país.

A nota cita que em todo o país o risco de morte por Covid-19 em grávidas neste ano foi 20 vezes superior ao risco de morte por TTS relatada no caso da gestante do Rio de Janeiro, o que levou o Ministério da Saúde a inclui-las no Programa Nacional de Imunizações (PNI). O documento inclui uma pesquisa do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe) entre 1º e 10 de maio onde foram notificados 6.416 casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em gestantes (257,87 casos por 100 mil gestantes), dos quais 4.103 foram confirmados como Covid-19 (167,91 casos por 100 mil). Do total de casos de SRAG em gestantes, 505 evoluíram a óbito (20,30 mortes por 100 mil), 475 dos quais foram confirmados para Covid-19 (19,09 óbitos por 100 mil). Esses dados fizeram com que a Anvisa recomendasse a inclusão das gestantes no PNI.

GESTANTES SÓ RECEBERÃO CORONAVAC OU PFIZER
A nova orientação do Ministério da Saúde, com base na nota, é para que as todas as gestantes e puérperas que tomaram a primeira dose da vacina da Covid-19 da AstraZeneca aguardem o fim da gestação e do período do puerpério para completar o esquema vacinal com o mesmo imunizante. A orientação também vale para as grávidas sem comorbidades vacinadas com a Pfizer ou a Coronavac.

Outra orientação é para que gestantes e puérperas que já receberam a vacina da AstraZeneca procurem atendimento médico imediato se apresentarem, nos 4 a 28 dias seguintes a vacinação, algum desses sintomas: falta de ar; dor no peito; inchaço na perna; dor abdominal persistente; sintomas neurológicos, como dor de cabeça persistente e de forte intensidade, borrada, dificuldade na fala ou sonolência; ou pequenas manchas avermelhadas na pele além do local em que foi aplicada a vacina.

No momento, a recomendação é de que apenas gestantes e puérperas com comorbidades continuem a ser vacinadas com as duas doses apenas com a Coronavac ou a vacina da Pfizer. Já as pertencentes a outros grupos prioritários poderão ser vacinadas após avaliação individual de risco e benefício a ser realizada em conjunto com o seu médico.

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