“Abya Yala”: música que vem da Mantiqueira e em honra ao Povo Puri

Renda da canção produzida por Aline (à esquerda) e Virginie vai para o Espaço “Inhâ Uchô”

Para celebrar o chamado “Abril Indígena” (foi escolhido o mês e não a data de 19 de abril, pra rememorar Galdino Pataxó, brutalmente morto em 1997, em honra aos Povos Originários), nada melhor do que relembrar a importância dos primeiros habitantes do país, que desde a colonização até hoje sofrem com as injustiças trazidas pelo chamado “homem branco”, desde o preconceito e a ameaça de extinção cultural até a pandemia da Covid-19 que assola o planeta.

Na região de Resende, o jornal BEIRA-RIO vem acompanhando a luta de Aline Rochedo Pachamama, conhecida em Visconde de Mauá, região onde mora, como Aline Puri, pesquisadora e historiadora, pela preservação da cultura de seu povo, cujos ancestrais foram os primeiros habitantes do município. Ela idealizou o Inhâ Uchô, um Espaço de Aprendizado Multiétnico, didático-ambiental e de Memória do Povo Puri da Mantiqueira, uma iniciativa que conta com a parceria indispensável da sociedade do entorno, segundo ela.

– Esse espaço construído é para nos unir, para fortalecer nossas culturas ancestrais, para fortalecer o conhecimento das nossas anciãs e nossos anciãos, e também para acolher tods as pessoas da região que queiram passar por esse tipo de aprendizado, de se reconhecer como parte dessa terra, do aprendizado de valorar a origem indígena de cada um. Muitas pessoas da região tem a origem do povo Puri, que é daqui da Mantiqueira. E é o povo que também colaborou pela preservação e manutenção dessa serra, que tem nome indígena, é a nossa cordilheira brasileira e pouco se faz por sua preservação. Nosso espaço não se trata apenas dos humanos, mas de todos os povos que habitam o nosso planeta (outros animais). Por isso estão em nosso projeto a preservação dos rios, dos nossos irmãos animais e o aprendizado das pessoas que estão nessa região há mais tempo. A gente espera que as autoridades abracem o nosso projeto – explica a historiadora.

Para que esse espaço seja construído e vire realidade, Aline está em busca de recursos financeiros. Uma dessas fontes de recursos vem da canção “Abya Yala”, que tem a letra escrita por ela e a composição pela compositora e produtora musical Virginie Boutaud, que a convidou para produzir a canção em português e no idioma puri.

– Recebi um convite há uns dois anos e meio para compor uma canção na língua do meu povo. Em um primeiro momento não me senti muito à vontade em fazer, preocupada como a canção seria vinculada. Fiquei insegura porque eu prezo pelo protagonismo e autonomia da nossa produção. Mas eu entendi também que é um chamado para eu fazer essa canção em parceria com uma pessoa que é aliada, que pode ajudar a divulgar os nossos trabalhos – revela Aline.

O objetivo da canção é falar da “Abya Yala” (que significa terra em florescimento, terra de sangue vital, nome dado pelo povo Kuna ao continente americano) é apresentar a Mantiqueira como Território, corpo e espírito do Povo Puri, e espaço sagrado para originários. A canção foi lançada em fevereiro deste ano na Europa, com letra de Aline Puri e produção de Virginie (ambas interpretam a canção).

Maquete virtual do projeto Inhã Uchô

Ela destaca a importância da canção para os puris, assim como outras músicas, por trazer parte da ancestralidade desse povo, e que tem se surpreendido com o alcance da canção produzida por ela e por Virginie em todo o mundo. “Essa canção está chegando em lugares que nós daqui da Mantiqueira não imaginaríamos que chegasse”.

A historiadora aproveita para exaltar a ajuda que o Inhã Uchô recebeu da produtora musical. “Quando a Virginie assume essa produção, ela faz toda essa parte de investimento e está nos ajudando porque nós não poderíamos fazer sozinhos, não temos o recurso financeiro para isso. E ela foi a pessoa que investiu nessa canção, investiu também no nosso processo de reparação histórica, linguística e cultural. Hoje a luta dos povos originários preza por pessoas que tenham essa lucidez de serem aliadas”.

EM HARMONIA E SINTONIA COM A MÃE TERRA
A produção e interpretação de uma canção que remonta às tradições puris também revela o hábito de cantar no dia a dia de Pachamama e seus ancestrais. “Cantar sempre foi uma forma de me acalmar, de me acalentar, de me trazer alegria. Os povos originários são da canção, a floresta canta, os pássaros são a expressão do canto da floresta, mas também o som do vento, o som das águas… Eu acho que todo o povo originario canta, nosso povo não é diferente”, cita.

As canções do povo puri, de acordo com a historiadora, são formadas por frases curtas como mantras, que possam trazer paz, amor e lucidez. “As letras das canções originárias são sempre letras carregadas de muita espiritualidade e de afetividade. Então, cantar é uma forma de nos comunicar, de estarmos em harmonia com essa sintonia toda que é a vida, a mãe terra, a Inhã Uchô, que chamamos de ‘Abya Yala'”.

Para adquirir a canção a ajudar a construir o projeto de Aline Puri, é só acessar a plataforma musical Bandcamp e procurar por “Abya Yala”, pagando somente um euro (o equivalente a R$ 6,70 segundo o mercado financeiro), clicando aqui.

Fotos: Reprodução/Redes Sociais

Você pode gostar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O limite de tempo está esgotado. Recarregue CAPTCHA.