Adeus Ubirany e obrigado: E o show vai continuar

Estava ensaiando nesta sexta, dia 11, a coluna para o BEIRA-RIO, quando pelo whatsapp chegou mais uma fatídica postagem: morreu de Covid-19, mestre Ubirany do grupo Fundo de Quintal. A Terra tremeu sob meus pés mais uma vez neste insuportável, 2020. Senti o golpe. Parei de escrever porque a motivação esvaiu-se rapidamente. A primeira iniciativa foi procurar nos meios de comunicação a confirmação de mais uma perda, forte. Confirmado, entrei num desânimo com aquela sensação de impotência diante do definitivo.

O telefonema do amigo, jornalista e professor Luis Cláudio Hermógenes, que assim como eu, é um fã ardoroso do bom Ubirany e de tudo que ele representa, acabou por me conduzir ao inevitável. Uma morte como essa merece um registro nosso também. Por menor que possa significar ante certamente tantos outros registros por gente e meios de maior peso e de muito maior reverberação. Mas não passará em branco pelo Beira-Rio.

O Fundo de Quintal, que algumas vezes eu defini como os Beatles do samba, foi criado nos meados da década de 1970, e é uma referência para o samba no Brasil e no mundo. A partir dele quantos sambistas em potencial despertaram para a nossa grande MBPB – Música Bem Popular Brasileira? E o grupo zanzou pelo exterior inúmeras vezes mostrando como se faz samba de verdade na terra do samba.

E Ubirany, que junto com o irmão Bira Presidente, ocupavam a ponteira no ranking dos mais estilosos passistas do país, foram criadores de uma entidade das mais sólidas e poderosas de nossa cultura popular, o bloco Caciques de Ramos, que em janeiro próximo completa 60 anos. Quando o bloco de índios foi pra rua pela primeira vez, o tradicional e poderoso Bafo da Onça tremeu nas bases. Surgira um concorrente à altura.

Ubirany criou um instrumento de percussão, o repique de mão, ao qual tocava com uma leveza que lembrava seus passos de bailarino. E pelo Fundo de Quintal passaram tantos bons sambistas, como se ali se formassem para seguir suas carreiras próprias como Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Almir Guineto, Sombrinha. E pelo Cacique quantos brotaram e brilharam a sombra da lendária tamarineira como o grande Zeca Pagodinho e os saudosos Luiz Carlos da Vila e Jovelina Pérola Negra!

Uma pena. Foi-se mais um pedaço vital de nossa cultura popular, de nossa matriz musical, da resistência de nossas raízes. Mas diferente dos Beatles, todos temos fé que o sonho não acabou. O valoroso Fundo de Quintal continuará na ativa, incendiando nosso espírito com o melhor de nossa música, a que pulsa dentro da gente, nos sacode e emociona.

Vá, na paz, Ubirany, aqui a gente fica com saudade, relembrando seus passos de bailarino do samba, do seu repique de mão, sua simpatia e sua nobreza. Certamente você fez escola, alguém virá. E sempre que o Fundo de Quintal se apresentar, iremos perceber seu sorriso enorme, sua presença, sua força.

Foto: Reprodução/Redes Sociais

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