Pandemia provoca abismo entre ensino público e privado em Resende

Gil Florenzano, professora que atua em instituição privada, relatou dura rotina para ajudar filho, que estuda na rede pública municipal, a não ter aprendizado prejudicado (Foto: Arquivo pessoal)

Na quinta-feira passada, dia 29, a secretaria de Educação de Resende, Rosa Diniz Frech de Almeida, divulgou uma nota nas redes sociais informando que o retorno das aulas presenciais no município – tanto nas unidades públicas quanto nas privadas – acontecerá a partir do dia 1º de fevereiro de 2021. A decisão teve como base o Decreto nº 47.219, de 19 de agosto deste ano, do Governo do Estado do Rio de Janeiro, que “dispõe sobre novas medidas de enfrentamento da propagação do Novo Coronavírus”, e também “as orientações Pedagógicas e Sanitárias publicadas no Boletim Oficial nº 055/2020, de 30/09/2020, do Município de Resende, que dispõe sobre as aulas presenciais para o ano letivo de 2021 nas unidades da rede pública e privada de ensino e nas unidades de ensino superior”.

No entanto, ela ressaltou que tal medida será tomada desde que a redução na taxa de ocupação dos leitos de UTI dos hospitais da rede pública e privada do município seja mantida, bem como que o cenário epidemiológico da Região do Médio Paraíba mantenha-se com baixo risco de contaminação, conforme o Painel Indicador do covid-19 do Estado do Rio de Janeiro”, sendo o último divulgado nesta quarta-feira, dia 4.

Mas a preocupação de alguns pais de alunos que estudam na rede municipal de ensino vai além da preocupação com o protocolo de prevenção a ser seguido no retorno às aulas presenciais. A professora Gil Florenzano é mãe de Raffael Florenzano Ribas, de 14 anos, que estuda no último ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Noel de Carvalho. Com a experiência adquirida como educadora em uma unidade privada de ensino, ela tem observado o abismo que tem separado o ensino pago daquele oferecido pelo poder público durante o período da pandemia da covid-19.

– Meu filho recebe atividades online, não são aulas. São atividades para realizar. Como sou professora, explico a ele os conteúdos. Porém a disciplina de Matemática é bastante complicada. Na rede particular (privada) as aulas online acontecem, na municipal não. Só mandam atividades. O aluno quando não sabe fazer copia a resposta na internet. Na particular tem aula, vídeos explicativos, é tudo completamente diferente – lamenta Gil.

A professora revela que tem ensinado as matérias ao filho desde a suspensão das aulas presenciais, e fala da situação dos outros alunos da mesma escola. “Meu filho quem ensino sou eu pois tenho medo que seja prejudicado no próximo ano. As mães que têm condições colocaram os filhos em aula particular, inclusive um amigo do meu filho veio por duas vezes estudar com a gente. Mas a grande maioria nem acompanha, ou seja, nem sabe como é que está sendo feito o ensino remoto”, acrescenta.

Para que o filho não tenha todo o ensino de 2020 perdido, a professora tem disponibilizado um horário pra explicar a matéria, e quando não domina o assunto, Raffael assiste aos vídeos das aulas na internet. “Mas vou procurar um professor de Matemática para ajudá-lo”.

Além de não contar com aulas online, Gil diz que na escola do filho as atividades são enviadas apenas uma vez na semana, enquanto que na escola onde trabalha as aulas e atividades são realizadas todos os dias. “A diferença é absurda. Eu trabalho três vezes mais para fazer a aprendizagem acontecer. E minha preocupação só aumenta em relação ao meu filho que agora irá para o Ensino Médio”.

Além da tarefa árdua que tem para educar o filho, Gil trabalha com duas turmas, uma do segundo e outra do quinto ano do Ensino Fundamental, no Centro Educacional Ebenézer. O começo não foi nada fácil.

– No início foi muito difícil pra mim, cheguei a chorar e pensar em desistir. Contei com o apoio da minha direção e orientação, também deamigos que muito me ajudaram a mexer com os equipamentos e a tecnologia. A aula remota contribuiu para trabalhar nos alunos e em mim também a timidez, no início era difícil conseguir a articipação deles. Hoje é bem diferente, a participação é efetiva, às vezes preciso até cortá-los. Presencialmente tem a parte afetiva, o abraço, o beijo, o contato físico, que faz muita falta para ambos (professor e aluno) – completa.

ADAPTAÇÕES NA REDE MUNICIPAL
A Secretaria de Educação assinou no dia 30 de setembro a Resolução nº 02, que muda de forma excepcional as regras para o processo de avaliação do rendimento escolar nas unidades escolares da Rede Municipal de Educação Pública de Resende (Remep), para o ano letivo de 2020, em virtude dos efeitos da pandemia de covid-19.

Dentre essas providências, a resolução prevê em seu segundo artigo, que será considerado como calendário letivo para o ano de 2020, “o período de desenvolvimento e implementação de atividades pedagógicas presenciais, executadas antes da suspensão das aulas, e as não-presenciais, em regime especial domiciliar, executadas durante o período de suspensão das aulas presenciais”.

Sendo assim, serão consideradas como formas de apuração desse rendimento atividades presenciais e não-presenciais, de acordo com as possibilidades e demandas de cada Unidade Escolar, planejadas, organizadas e disponibilizadas em meio virtual ou físico. Confira o documento na íntegra clicando aqui.

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