11 de Setembro e o Brasil de Hoje

O dia 11 de setembro de 1973 caiu numa terça-feira. Isso foi há 47 anos. Nesse dia caiu também um presidente democraticamente eleito, no Chile, o médico Salvador Allende. E Allende caiu não apenas democraticamente, perdendo o poder, mas deixando a vida. Ainda há alguma controvérsia sobre sua morte, se morreu por bala de algum dos comandados do general Augusto Pinochet ou teria se suicidado para não se entregar ao movimento golpista.

O fato é que o médico, assumidamente socialista, ocupar o Palácio La Moneda contrariou profundamente o maioral da Casa Branca, Richard Nixon ou mais ainda, ao próprio deep state que contrariado viu dar em nada as ações de desestabilização realizadas contra Allende na campanha eleitoral, como documentos mais tarde revelados, comprovariam.

Como naquele tempo ainda não havia sido inventado o Lawfarer – a guerra jurídica que é o novo jeito de dar o golpe para manter o cabresto do quintal -, a coisa foi na força mesmo e as tropas de Pinochet cercaram La Moneda, bombardearam e tomaram o poder. E um tempo de horror se estendeu por 17 anos sobre o país vizinho. Anos mais tarde a própria filha de Allende, Isabel, então senadora da república, chegou a admitir que seu pai “decidiu pelo gesto de morrer por uma questão de coerência política”.

Com a implantação da ditadura liderada por Pinochet, o Chile além de palco de barbaridades sanguinárias, como também acontecia no Brasil e na Argentina, foi transformado numa espécie de laboratório para o ultraliberalismo econômico. Lá as teorias desenvolvidas na Universidade de Chicago, pelo prêmio Nobel de economia Milton Friedman foram colocadas em prática. Menos Estado e mais iniciativa privada. Dali a prática foi adotada por Margareth Thatcher na Inglaterra e passou a vagar como um Vírus em parte do mundo.

O resultado disso é que o Chile é hoje um país de economia fragilizada, uma sociedade desequilibrada, endividada, que paga educação e saúde e com um sistema de aposentadoria perverso. E como acontece em países que conhecemos bem, um percentual minúsculo de cidadãos tem nas mãos quase toda a riqueza do país enquanto a maior parte da população vive à míngua e trabalha num regime semiescravo. Além é claro de a soberania do país ter ido por água abaixo.

E nós com isso? Não bastasse o presidente brasileiro ser um admirador confesso de Pinochet, ele escolheu um ‘Chicago boy’ para ser o seu superministro da economia, Paulo Guedes. Esse senhor fez pós-graduação na Universidade de Chicago e lá se envolveu com estudantes chilenos, um grupo de vinte e cinco economistas lá formados e que voltaram a seu país para estabelecer as regras ultraliberais da economia imposta por Pinochet. Eram os ‘Chicago boys’.

Paulo Guedes é adepto dessa política devastadora que imperou no país vizinho. Por isso a loucura em destruir nossa previdência, reduzir aposentadorias, acabar com a estabilidade no setor público, extinguir direitos garantidos pela CLT e privatizar tudo que puder. O Banco do Brasil (“privatizar essa porra logo”, como disse naquela reunião de 22 de abril), a Eletrobrás, entregar a Petrobrás às empresas estrangeiras, a Embraer, a Caixa Econômica e por aí vai.

Enquanto a pandemia mata, certamente mais do que deveria em consequência da ausência de um governo de verdade no país, a grande imprensa promove um cinturão de silêncio sobre a farra entreguista que está ocorrendo. Terminado o período angustiante e paralisante estabelecido pela pandemia, certamente, nada será como antes. Seria um exercício de futurologia prever como estaremos, mas as probabilidades não se apresentam animadoras.

Sobre o outro 11 de setembro, o que parece que foi fake, sugiro assistir, pelo Youtube, o documentário: UM GOLPE AMERICANO (LOOSE CHANGE 9 11). É dublado. Muito interessante.

Foto: Arte sobre fotos de Washington Costa/ME e Arquivo de História Política do Chile

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