Casos confirmados e mortes pelo coronavírus seguem multiplicando na região

Na última segunda-feira, dia 3, o prefeito de Barra Mansa, Rodrigo Drable, anunciou que o comércio deverá ser fechado até às 20 horas durante sete dias. Em Itatiaia, único município da Região das Agulhas Negras que ainda não havia registrado mortes pela covid-19 até o mês de junho, quatro pessoas perderam a vida em julho por complicações da doença. Quatis teve que fechar suas divisas para veículos com placas de outros municípios no último sábado, dia 1º, e Volta Redonda já vem adotando medidas restritivas desde o final de junho.

Em todos esses municípios, o número de casos de pacientes com a Covid-19 se multiplicou em duas ou mais vezes, sobrecarregando os leitos hospitalares. Em Porto Real, por exemplo, a prefeitura – com dados da Secretaria Municipal de Saúde – fez um balanço do número de casos do novo coronavírus por bairro entre os meses de junho e julho. No dia 30 de junho, o município havia contabilizado 56 casos da doença. No mês seguinte, no último dia 29, o total geral mais que quadruplicou, chegando a 215. Conforme levantamento da Secretaria, alguns bairros como o Novo Horizonte, por exemplo, apresentaram cinco vezes mais casos durante o período de 30 de junho a 28 de julho, passando de quatro para 20 casos. Já o Freitas Soares, no mesmo período, saltou de 17 para 62 casos.

Os dados foram contabilizados nos bairros até o dia 28 de julho. Este mês, os casos não param de aumentar. Segundo os dados do último boletim, registrados na terça-feira, dia 4, o município conta com 253 casos confirmados, sendo 127 recuperados e 109 em isolamento domiciliar. Já o número de internações teve uma leve queda, com sete pacientes no hospital, e seguem registradas 10 mortes.

– Estamos observando um aumento considerável dos casos, principalmente neste mês de julho. O município chegou a 10 óbitos esta semana, mais que o triplo registrado até o dia 30 do mês passado. A Prefeitura vem restrigindo gradativamente as medidas sanitárias, através dos últimos decretos, porém ainda existem pessoas que não estão fazendo a parte delas no enfrentamento ao coronavírus. Sair de casa é uma atitude que deve ser tomada em caso de extrema necessidade. E, se for necessário sair, vale lembrar que o uso de máscara, além de obrigatório, é crucial para a proteção contra o coronavírus e que o apoio da população é indispensável neste tempo de pandemia – analisou o secretário de Saúde Luiz Fernando Curty Jardim.

Na vizinha Quatis, o poder público municipal anunciou a volta de restrições depois que o município registrou no dia 31 de julho a segunda morte, de um idoso de 87 anos, que se encontrava internado no Hospital Regional Zilda Arns, em Volta Redonda. O boletim do dia 30 de julho apontou que dos 70 casos confirmados daquele mês, Centro e Polastri registraram o maior número de casos confirmados (10), Bondarovsky e Alto Paraíso (9 casos) e Santa Bárbara, J.Independência, Barrinha e Nossa Senhora do Rosário (5 casos), se destacam com o maior número de registros. O último boletim, de 1º de agosto, apontou que houve 71 casos (um a mais que em julho), com 62 recuperados e duas mortes.

Em Resende e Itatiaia, os casos também não param de crescer. O maior município da Região das Agulhas Negras registrava no dia 30 de junho, dois meses após a prefeitura decretar o início da flexibilização do comércio, locais e outras atividades, 446 casos positivos de coronavírus e 394 pacientes recuperados, e 22 mortes. No final de julho, Resende viu esses números triplicar em casos registrados e duplicar em número de mortes. No último dia do mês foram registrados 1.216 casos, com 1.058 recuperados e 47 mortes. No último boletim, registrado nesta quarta-feira, dia 5, foram 1401 casos confirmados (1226 recuperados) e 53 mortes. O último caso registrado é de um paciente de 43 anos, que morava em Pernambuco, mas foi registrado como morador de Resende.

Pela primeira vez desde que começou a registrar casos, Itatiaia passou a registrar mortes pela Covid-19 em pleno mês de julho. O município vinha ensaiando uma retomada gradativa das atividades quando registrou a primeira vítima fatal da doença em 18 de julho, no Hospital Municipal, de um idoso de 78 anos, morador da cidade. No final do mês (dados do dia 31), esse número passou para quatro até o momento. O município, segundo dados do dia 4 (terça-feira), que tinha 191 casos o fim de julho, tem agora 203 casos positivos para coronavírus. Desse total, 183 já estão recuperados. O bairro com mais casos da doença é o Jardim Itatiaia, com 36 pessoas infectadas.

Próximo a Região das Agulhas Negras, os dois municípios mais importantes do Sul Fluminense também tiveram de recuar das medidas de flexibilização. Em Barra Mansa, primeiro município da região e do estado do Rio de Janeiro a registrar um caso da Covid-19, o número de registros triplicou e as mortes dobraram, saltando de 614 casos e 36 mortes no final de junho (dados do dia 30 daquele mês) para 1.675 casos e 68 mortes no final de julho (dia 31). Nesta quinta, dia 6 de agosto, esses números continuaram crescendo, e são ao todo 1.852 casos e 72 mortes. Tanto que no começo da semana, o prefeito Rodrigo Drable se reuniu com o empresariado para definir as medidas de combate ao coronavírus, entre elas o funcionamento do comércio até às 20 horas.

Até mesmo na cidade mais atingida pela doença, o problema parece não ter fim. Mesmo voltando atrás nas medidas de flexibilização há pouco mais de um mês, o último boletim, divulgado nesta quinta-feira, dia 6, mostrou um aumento ainda maior de doentes com a Covid-19 em Volta Redonda. Foram confirmados 3.617 casos e o número de mortos chega a 126. Essa estatística provocou um aumento de 1,3% de casos suspeitos e ocupação de 10% dos leitos do Hospital de Campanha, e de 43% dos leitos de UTI da Rede Municipal, fazendo que essas medidas restritivas sejam realizadas no momento.

PREOCUPAÇÃO DOS ESPECIALISTAS
O aumento de casos que acomete os seis municípios da região, segundo especialistas, é uma espécie de interiorização da Covid-19. No dia 23 de julho, durante a live “Flexbilização, Resende e Pandemia”, realizada pelo Comitê pela Transparência e Controle Social de Resende (ComSocial), a médica sanitarista e conselheira de saúde no segmento gestão do Conselho Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, Mônica Almeida, apresentou dados estatísticos que apontam a ocorrência do pico da Região do Médio Paraíba a partir do dia 6 de junho e a queda por volta do dia 23 deste mês (na capital e Região Metropolitana I, o pico se estendeu entre o final de abril e o início de maio), com transmissão por vias rodoviárias.

– A região tem municípios como Volta Redonda, que estão gritando. Tem os outros que estão com incidência baixa, mas que podem atingir esse patamar, pois tem muita lenha pra queimar. A Fiocruz fez um levantamento mostrando que todos os municípios daqui já possuem casos de covid, e se não me engano, Resende ficou na 28ª colocação em número de casos entre os 92 municípios do estado. E isso não é pouca coisa, e como ela está próxima da Região Metropolitana, os ramais rodoviários trouxeram vírus e a pandemia ainda está em vigor por aqui. Apontando um mapa de 21 de julho da Fiocruz, o número de casos se encontra na região metropolitana, mas que esse número de pintinhas que apareceram no interior mostra um tendência de interiorização da doença e que temos que trabalhar essa realidade – explica a médica.

Outro participante culpou a atitude dos governantes. O ex-secretário de Cidadania e Relações Comunitárias Paulo César Silva, o Cesinha, questionou a falta de diálogo e informação por parte do poder público para orientar a população em relação às medidas preventivas com a flexibilização.

– Quem tem informação é o gestor. À medida que ele transfere essa informação e faz a população decidir como se comportar nessa situação, isso não houve. O que aconteceu foi que meia dúzia de buzinas apareceram pedindo para as pessoas que precisam do transporte público voltassem a trabalhar, sem sequer criar um diálogo com os motoristas de ônibus. Já vi vários deles usarem a máscara como se colocasse um pano no rosto pra amenizar caxumba (máscara embaixo do queixo). A forma adotada de flexibilização provocou confusão nas pessoas, que acharam que já estava tudo normalizado e liberado. Os diversos atores da cidade envolvidos na prevenção da pandemia, os empresários e os políticos, poderiam ter combinado como seria essa reabertura com base em dados (sobre os casos e o número de leitos nos hospitais), e nada disso foi feito. O resultado são esses números alarmantes que estamos vendo agora – disse.

Fotos: Arquivo

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