Produtor rural de assentamento do MST é assassinado em Quatis

Será enterrado a partir das 10 horas desta terça-feira, dia 12, em Quatis, o corpo do produtor rural Sebastião Pereira de Carvalho, o Seu Tião (foto), de 69 anos. Segundo informações da polícia,  Seu Tião – que vivia com a família no assentamento Irmã Dorothy, no município – foi assassinado a tiros depois de uma discussão envolvendo criação de gado com outro homem no assentamento. Ainda de acordo com a polícia, o autor dos disparos segue foragido, e a Delegacia de Porto Real (100ª DP) segue investigando o caso.

O assentamento onde vivia Seu Tião fica localizado às margens da rodovia RJ-143, que liga Quatis a Barra Mansa através do distrito de Amparo. Segundo uma nota de pesar publicada do MST do Rio de Janeiro, o produtor rural “sobreviveu ao garimpo aberto da Serra Pelada e passou pela luta pela terra em diversos estados do Brasil para chegar na região Norte Fluminense, onde começou sua luta dentro do MST-RJ”.

Na mesma nota, o MST-RJ informou que se solidariza “com a família do seu Tião, que tem uma longa história de luta pela terra e todas as demais famílias que vêm a tantos anos lutando e resistindo embaixo da lona preta”. O MST encerra a publicação afirmando que o movimento continuará “lutando até que todas as cercas sejam rompidas e famílias como a do seu Tião, tenham o direito à terra e vida digna no campo”.

Posteriormente, Seu Tião e sua família migraram para o Sul Fluminense em meados dos anos 2000, quando foi fundado o assentamento Irmã Dorothy, onde mais de 50 famílias lutam até hoje para serem regularizadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Ele era casado com a produtora rural Ana Lúcia Lopes, e era pai de Amanda Silva, a Amandinha, ambas entrevistadas durante o Encontro Regional dos Sem-Terrinha, realizado no último dia 3, em Quatis.

A nota publicada pelo MST-RJ mostra a preocupação da entidade e das famílias assentadas no Irmã Dorothy desde o ano de 2005. Mesmo com a desapropriação da fazenda ocupada pelos militantes do movimento, em 2014, os produtores da região ainda não conseguiram a regularização e sofrem com a violência que resultou na morte de Seu Tião. Confira a nota na íntegra:

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra vem a público informar que neste domingo, dia 10 de novembro, o companheiro Sebastião Carvalho, seu Tião, do Assentamento Irmã Dorothy, no Município de Quatis, foi assassinado dentro do próprio assentamento.

Denunciamos o descaso e a lentidão da Reforma Agrária que faz com que as famílias fiquem em condições precárias, acampadas por muitos anos sem ter o acesso efetivo à terra e, por conseguinte, às políticas públicas que garantam qualidade de vida e geração de renda.

O Assentamento Irmão Dorothy é fruto de uma ocupação de terras em 2005, tendo a desapropriação da fazenda ocorrida em 2014 que garantiu a criação do Assentamento. Desde então, nenhuma família foi regularizada, não teve acesso a nenhum crédito ou infraestrutura para que se efetivasse o assentamento, que se encontra até os dias de hoje em situação de vulnerabilidade e abandono dos poderes públicos. Apesar de toda luta e pressão exercida no INCRA, este órgão insiste em ignorar esta situação.

Todo esse descaso e morosidade geram desgastes e conflitos na área e na região. O INCRA, ao invés de mediar e amenizar esses conflitos, deixa de lado suas responsabilidades, potencializando os conflitos, que neste domingo vimos chegar ao extremo de um assassinato.

Exigimos a regularização e a efetivação completa das políticas de Reforma Agrária que garantam o desenvolvimento do assentamento e as melhorias das condições de vida das famílias que ali se encontram, garantindo-lhes a tão sonhada dignidade imposta pela Constituição, bem como a responsabilização de quem tirou a vida do seu Tião, e do poder público por este crime bárbaro.

Seu Tião sobreviveu ao garimpo aberto da Serra Pelada, passou pela luta pela terra em diversos estados do Brasil para chegar na região norte fluminense onde começou sua luta dentro do MST-RJ. Anos de luta embaixo da lona preta fizeram ele e sua família migrar ao sul do estado, onde conseguiu se assentar no assentamento Irmã Dorothy. Pai de uma extensa família, é casado com dona Lúcia, uma referência na produção agroecológica e dos valores Sem Terra.

Nos solidarizamos com a família do seu Tião, que tem uma longa história de luta pela terra e todas as demais famílias que vêm a tantos anos lutando e resistindo embaixo da lona preta. Continuaremos lutando até que todas as cercas sejam rompidas e famílias como a do seu Tião, tenham o direito à terra e vida digna no campo.

Seu Tião, Presente, Presente, Presente!
Lutar, Construir Reforma Agrária Popular!

Rio de Janeiro, 11 de novembro de 2019.

Foto: Divulgação/MST-RJ

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