Mesmo com abrigo, morador de rua de Resende segue desassistido pelo poder público

Local onde aposentado foi encontrado faz esquina com comércio, que vê presença como preocupação (Foto: Reprodução/Google Maps)

Há exatamente um mês, a Prefeitura de Resende – com direito a inauguração e foto do prefeito Diogo Balieiro – anunciou a abertura do abrigo noturno de acolhimento institucional para moradores em situação de rua, localizado no Centro, próximo a igreja Matriz, onde os usuários do espaço possam permanecer pelo prazo médio de três meses e receber toda a assistência necessária. Segundo a propaganda do governo municipal, seria um local perfeito para receber um homem de 53 anos, aposentado e pai de 10 filhos, mas se encontra vivendo nas ruas do Manejo desde a última quarta-feira, dia 31.

No entanto, moradores vizinhos denunciam que não estão conseguindo atendimento da assistência social do município ao aposentado desde a sua chegada na Rua Narcisa Amália, no bairro Manejo. Tanto que o homem, somente com a ajuda desses vizinhos teve de dormir ao relento, exposto ao frio e à falta de segurança. É que segundo uma dona de casa, que preferiu não se identificar, o morador de rua – mesmo tendo uma família – não quer voltar pra casa e que está no local esperando abrir uma das agências bancárias no bairro para receber o dinheiro da aposentadoria.

– Ele me falou que está esperando até quarta-feira que vem (dia 6) para receber essa aposentadoria. Além disso, não quer ter contato com a família. Tem a fala um pouco enrolada, mas deu pra entender que não quer ficar em casa porque um dos filhos não estaria dando assistência pra ele. Tinha que vir alguém da assistência social pra conversar com ele e resolver essa situação – citou a dona de casa.

Mesmo não sendo moradora do bairro, ela tem ajudado o homem, e tem contado com o auxílio de uma amiga – que é um dos vizinhos da rua onde se encontra o aposentado – pra dar a assistência necessária. Desde então, ela, a amiga e outros vizinhos têm ajudado o morador de rua com refeições e roupas. Por outro lado, a preocupação dos moradores é com a reação do comércio local. “Além do homem não querer sair, ele se encontra na parede da esquina da Avenida Coronel Mendes, que é de uma padaria, e o dono não quer a presença dele lá, nem quer que a gente ajude pra que o mesmo vá embora. Mas como é que a gente vai deixar de alimentar essa pessoa?”, questionou.

A dona de casa resolveu compartilhar o drama do morador de rua nas redes sociais, no grupo Bom Dia Resende. Um dos internautas, que vive no mesmo bairro onde estaria morando a família, postou falando sobre a situação dele. “Ele é morador da Rua Nossa Senhora da Glória, no Paraíso. A situação dele é difícil, o pessoal do Cras Paraíso acompanha ele, mais ele não fica em casa, gosta de ficar nas ruas, ele recebe um salário de aposentadoria, a filha dele separou a casa, ele mora lá. Ele deveria ser internados no Asilo, aí seria bem tratado e não ficaria nas ruas!!! Aonde ele está??? Vamos acionar o Cras Paraíso!!!!”.

ABRIGO NÃO FUNCIONA 24 HORAS
Como se não bastasse a demora na realização da abordagem do morador de rua da Narcisa Amália, apesar da propaganda governamental anunciar que Resende teria pela primeira vez um abrigo para moradores em situação de rua, a informação não corresponde à realidade. Segundo o blog do Elizeu Pires, a criação do abrigo de Acolhimento Institucional (na foto, ao lado) nada mas é que o cumprimento de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), e descreveu a ação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) como um “puxão de orelha” no prefeito, que supostamente, segundo informações, teria descontinuado o serviço ao assumir o cargo.

A publicação do blog ainda informa que o TAC foi firmado no mês passado, em 4 de junho, entre a prefeitura e o MPRJ, e determina o poder público municipal, em sua primeira cláusula, a iniciar o funcionamento do Abrigo Institucional do Município em um prazo de 45 dias após a assinatura do documento.

Ainda que tenha respeitado o prazo pra instalação do abrigo, segundo o site da Prefeitura de Resende, o Acolhimento Institucional não vem cumprindo com outra exigência do TAC, abrindo diariamente somente das 19 horas até às 7 horas do dia seguinte. Segundo o documento do MPRJ, com a abertura do abrigo, o município deverá prestar assistência integral 24 horas durante sete dias da semana.

Descrito como “responsável por traçar estratégias e prestar auxílio às pessoas que estão vivendo em situação de rua no município”, o Centro Pop funciona somente de segunda a sexta, das 8 às 17 horas, sendo que na falta dos serviços deste, o abrigo deveria funcionar integralmente nessas 24 horas para oferecer atendimento a moradores e famílias em situação de rua. Tanto na falta do abrigo quanto em relação ao funcionamento 24 horas, o não cumprimento acarretará em uma multa diária de R$ 500.

HOMEM NÃO LOCALIZADO
O jornal BEIRA-RIO, ao entrar em contato com serviço de atendimento à população em situação de rua, foi informado que o aposentado tem família e costuma ser assistido por outros programas sociais da Secretaria de Assistência Social, não sendo considerado um morador em situação de rua. O órgão ainda acrescentou que integrantes do programa Abordagem Social estiveram na manhã desta quinta-feira, dia 1º, no local onde se encontrava o homem de 53 anos, assim como na agência bancária onde o mesmo teria informado que receberia o dinheiro do seu benefício, mas o mesmo não foi encontrado.

O abrigo não dispõe de condução para busca o morador na rua, que tem a opção de procurar o local para passar a noite entre as 19h e 7h do dia seguinte. Para outras informações ou solicitações de assistência aos moradores de rua, o telefone é (24) 3360-9939.

Fotos: Gleisiani Carvalho/PMR e Reprodução/Redes Sociais

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