Doulas falam sobre a realidade da profissão na região

“Depois que eu tive uma experiência pessoal muito positiva, aconteceu de mulheres me procurarem para saber como proceder em um parto normal, tirarem dúvidas. E aí percebi também a necessidade de ter uma formação na área e para orientar”, conta a presidente da Associação de Doulas do Rio de Janeiro (ADoulas-RJ), Morgana Eneile (foto acima), que participou do I Encontro de Doulas do Médio Paraíba, na manhã deste sábado, dia 11, na Câmara Municipal.

A presidente, que se formou em um curso especial para doula em 2015, e foi eleita para o cargo da associação em 2016, teve a oportunidade de trabalhar como doula para a madrinha de um dos filhos. E que ao contrário que pensam muitas mulheres, nem tudo são flores em um trabalho acompanhado por doulas.

– Foi uma gestação complexa, pois ela teve eclâmpsia e o parto acabou sendo prematuro. Ainda assim, graças a esse trabalho, pude orientá-la da melhor maneira possível. Sei que no começo passei muito perrengue – relembra.

Para Morgana, o maior empecilho para as doulas é o desconhecimento da profissão, o que tem levado muitos médicos obstetras e maternidades a impedirem a entrada delas no local onde são realizados os partos. “O que a gente vê nesses casos é mais uma disputa mercadológica entre obstetras, enfermeiros e doulas. Nosso código de ética profissional e a legislação proíbem que a doula faça o mesmo procedimento dos médicos e enfermeiros, ela apenas dá o suporte emocional à gestante”, enfatiza a presidente, que realizou uma oficina sobre a profissão e participou da criação de um núcleo regional da entidade que representa durante o encontro.

A profissão, embora já conte com um curso de formação e profissionais, ainda não é muito reconhecida e está distante da realidade da vida das gestantes na maioria dos casos, e das maternidades, no Sul Fluminense. Que diga a doula Josiane da Costa Aguiar (foto ao lado). Natural de Barra Mansa, ela viveu por três anos no Paraná, e retornou a terra natal no início deste ano.

Antes, porém, passou por uma experiência acompanhando a gestação de uma amiga quando ainda morava em Pontal do Paraná, município litorâneo que não dispõe de uma maternidade. “Minha amiga passou por todo procedimento obstétrico em Paranaguá (cidade mais próxima). E ela teve o bebê de parto normal, mas longe de ser humanizado, fora que sofreu muito também por conta da discriminação racial”, cita Josiane, que chegou a ser proibida de entrar na maternidade para acompanhar o trabalho de parto.

Com a experiência, Josiane resolveu buscar informação e humanização. E então teve a ideia de fazer um curso de doula, mas não atua pela questão da falta de informação, tanto da lei quanto do município onde vive. Ela relata que em Barra Mansa o trabalho de humanização do parto é desconhecido pela população. “Em Barra Mansa, a gestante quem é atendida no SUS fica a mercê dos médicos, enquanto as que possuem planos de saúde optam pela cesariana por falta de informação e medo de sofrer no parto normal”.

A doula revela que vem conversando aos poucos com as autoridades de Barra Mansa para mudar esse quadro e ajudar na humanização do trabalho oferecido no Hospital da Mulher. “Estou promovendo vários diálogos em Barra Mansa. Primeiro conversei com a chefe de enfermagem do Hospital da Mulher e depois com a vice-prefeita (Maria de Fátima Lima da Silva, a Professora Fátima). Estarei agendando uma reunião com a secretária dela pra tratar sobre o assunto. A humanização é algo muito novo para eles”, completa.

DOULAS NA APMIR
Em Resende, há um pequeno avanço em relação aos outros municípios citados. A unidade, conforme relatado durante o encontro, conta com duas doulas trabalhando na maternidade local (Apmir). Uma dessas doulas é Elaine Rocha, que há 2 anos auxiliou no trabalho de parto da filha. “Sempre gostei de ser doula, ela dá suporte emocional e físico através dos cuidados com a gestante. A maioria delas sempre confessou para mim que ficaria sem saber como proceder em um trabalho de parto sem a doula. Até os futuros papais se sentem apoiados. É importante também trabalhar o acompanhante para esse momento em que nasce o bebê”, explica Elaine.

Como doula, ela também destaca que a principal dificuldade que enfrenta em sua profissão é a falta de conhecimento. “A maioria das pessoas dizem que não sabem o que é, e o que faz uma doula”.

Colega de Elaine, a enfermeira obstétrica Andréa Penedo (na foto, à direita) relata que a maternidade conta com o trabalho de doulas há 3 anos, com a aprovação da Lei Estadual 7314/2016. “Atualmente, as doulas que estão aqui são contratadas pelas gestantes ou atuam voluntariamente pra elas, independente do atendimento ser pelo SUS ou privado. As profissionais têm livre acesso ao local de realização do parto, desde que tenham o comprovante de formação e assinem um documento de identificação. Elas não contam como acompanhantes das gestantes, que neste caso pode ser o companheiro, outro familiar ou amigo”.

Ela fala dos benefícios do trabalho das doulas tanto às gestantes quantos aos profissionais da obstetrícia.”Apesar da nossa experiência ser pequena devido à baixa participação, as doulas fazem todo o acompanhamento emocional das pacientes e esse trabalho facilita o trabalho de parto, elas agregam muito valor ao nosso trabalho, mesmo com todas as dificuldades”, completa.

INTERESSADAS EM SER DOULAS
Outras profissionais de saúde e bem-estar também estiveram presentes no encontro, e se mostraram interessadas na profissão. Há quem por muito pouco não se tornou uma doula. “Dentro da profissão de professor de yoga, a gente pode se especializar também como doula. Nos últimos tempos, porém, não tenho recebido pacientes grávidas para as aulas, e sim outras mulheres que acabam engravidando no decorrer das sessões de yoga. Só não me especializei porque teria que abrir mão das aulas de yoga”, diz a professora de yoga Carin Siqueira, convidada para realizar uma espécie de acolhimento durante o encontro.

A cuidadora de idosos Sandra de Carvalho veio ao evento por curiosidade. “Eu nunca tinha ouvido falar dessa profissão. Mas eu vi na TV pessoas ajudando gestantes, foi então que a Rosi (Almeida, uma das organizadoras do encontro), que é minha amiga, me convidou para participar, pois também cuido de crianças. Fui enfermeira, depois casei e tive meus filhos, e voltei a trabalhar, dessa vez com idosos. Deveria ter um curso na área por aqui pra doula, quem sabe não posso fazer um dia?”, encerra.

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