Limpeza de terreno

Tudo bem que o terreno fora invadido pelas mamonas. Mas vamos lá, a Petrobras fabrica um biodiesel a partir do óleo dessas sementes. Também entendo que sujeitos indeterminados e fortuitos chegam e despejam ali o que não lhes serve mais. Mas dura pouco, pois logo vem alguém e leva essas coisas para reaproveitar de algum jeito. Pior é a situação dos pássaros. Pousados no alto da maior árvore resolveram ficar para assistir. Posso ver suas lágrimas. É a mesma de moradores que veem suas casas serem destruídas. Um bem-te-vi de porte avantajado chegou a dar um voo rasante em direção a cabeça do motorista da retroescavadeira.

Minha situação também é complicadíssima! Sabia que isso iria acontecer em algum momento. Moro próximo ao terreno e me apaixonei pelo canto abundante dos pássaros. Agora estão lá o dono do terreno – ou seu representante – a retroescavadeira e os pássaros. E eu o que poderia dizer para frear a limpeza – termo usado pelos sujeitos? Que sonhei com o espírito da terra avisando que amaldiçoaria para sempre quem mexesse ali? Com todo respeito ao espírito da terra, mas isso não teria força suficiente diante da especulação imobiliária. Por outro lado não falo a língua dos pássaros. E ainda bem! Pois lhes diria o que? O que eles já sabem? Que a vida é assim!

O som da máquina quebrando os ossos dos arbustos é horrível. Optei por ligar uma música no volume máximo. E no intervalo entre as faixas 2 e 3 ouvi o motorista da retroescavadeira dizer gritando: vizinhança barulhenta, ein!

Foto: Divulgação/Pra Construir Blog

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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