Fiéis se revoltam com reforma na Igreja Matriz de Barra Mansa

Chuva não impediu abraço simbólico à igreja no último sábado

Na manhã deste sábado, dia 1º, um grupo de fiéis realizou um abraço simbólico em frente à Igreja Matriz de São Sebastião, de Barra Mansa. O objetivo é protestar contra as obras iniciadas na última segunda-feira, dia 26, que incluem a colocação de um novo painel no altar, o que vem gerando polêmica entre o pároco, o bispo da diocese, autoridades, padres e os próprios fiéis.

– Eu apoio a causa contra qualquer obra sem a menor necessidade. Não estamos em um período favorável ao gasto de dinheiro desnecessário, e os religiosos da nossa diocese e paróquia não estão respeitando as leis e cultura brasileiras! – criticou o médico Abel Carlos de Barros.

Ele aproveitou o momento em que visitou a tenda do abaixo-assinado montada na Praça Ponce de Leon, em frente à Matriz, para questionar o pároco da Igreja Matriz, padre Milan Knezovic, de origem croata, e o bispo da Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda, Dom Francisco Biasin, de origem italiana, cujas justificativas dadas sobre a obra vêm desagradando os fiéis.

O médico Abel aproveitou para criticar obra ao lado de fiéis

Outro fiel chegou a propor um desafio ao bispo. “Não se pode tirar nem descaracterizar um patrimônio. Manda o bispo ir lá pra Ouro Preto ou Congonhas (em Minas Gerais) pra ver se eles pode fazer isso?”, alfinetou o fotógrafo José Pedro Pereira. “Barra Mansa só tem dois cartões de visita, a Ponte dos Arcos e a Igreja Matriz. E se a gente perde esses patrimônios, como fica?”, acrescentou.

Segundo uma conselheira da igreja, que não quis se identificar, nos croquis da obra apresentadas pela paróquia, a intenção inicial era derrubar o painel sacro, construído em meados de século passado (inaugurado em 1960, segundo fiéis mais antigos), em arte árabe-portuguesa, de azulejos vitrificados, e substituir por outro. Ela lamenta o fato de a comunidade não ter sido consultada antes sobre a mudança.

– As pessoas não puderam opinar, pois o pároco apenas mostrou para nós como seriam as obras durante a missa que antecedeu o início delas. Depois das férias do padre, o conselho paroquiano se reuniu em setembro. Foi quando tivemos a informação de que haveria uma conversa prévia com o prefeito. No mês seguinte, não foi nada falado sobre isso, apenas que a obra ficaria cara e que haveria um pedido de apoio aos devotos – conta a conselheira.

Ela ainda destacou que a reunião sobre a obra foi registrada na ata do conselho, mas não a votação dos conselheiros, e sequer foi realizada uma consulta junto à população. E que uma das justificativas para a reforma do altar, que seria “para atender às exigências da Lei de Acessibilidade n. 10.098 de 19/12/2000 e para ampliar a comunicação do espaço litúrgico, aproximando os celebrantes do povo, de acordo com as orientações do Concílio Vaticano II”, não haviam sido devidamente explicadas na véspera do início das obras.

Outros fiéis também criticam a demolição do muro de mármore que cercava o altar. “A demolição do altar representa um grande prejuízo histórico, já que o mármore utilizado em sua construção não existe mais para compra. Ainda que seja reformado esse altar, não ficará mais da mesma forma que era antes. Quem se importa com a história da igreja não vai aceitar uma coisa dessas”, lamenta a professora Luciana Borges.

Abaixo-assinado já conta com mais de 400 assinaturas

Até a manhã de sábado, o abaixo-assinado – que será entregue às autoridades do município e ao Papa Francisco, no Vaticano – registrou mais de 400 assinaturas. Os fiéis também criaram uma página de petição pública, que registrou até o momento mais de 70 assinaturas. Na última sexta-feira, dia 30, uma fila chegou a ser formada no mesmo local para o recolhimento das assinaturas. Os interessados em assinar podem acessar a petição clicando aqui.

AS JUSTIFICATIVAS
Na última quarta-feira, dia 28, a Diocese de Barra do Piraí-Volta Redonda emitiu uma nota à imprensa sobre a reforma, informando que “não há qualquer intenção de demolir o atual painel que está na parede dos fundos do altar, construído na última grande reforma entre 1956 e 1960”, e que “a decisão de adaptação do presbitério e altar do templo foi tomada com a participação da comunidade em reuniões do conselho pastoral da paróquia, ocorridas nos meses de setembro e outubro e votada com ampla e favorável aprovação na assembleia paroquial realizada em novembro, contando com a participação de representantes em todas as comunidades da paróquia”.

Além disso, a nota destaca que “a segunda fase do projeto, que pre

vê a colocação dos novos painéis, ainda está em estudo para ser aprovada pelas competentes instâncias do governo municipal e da Comissão de Arte Litúrgica da Diocese, sempre preservando o antigo painel”. No entanto, a obra segue paralisada desde quarta-feira, dia 28, apenas com o muro do altar já demolido.

Na sexta-feira, o Conselho Municipal de Cultura esteve reunido com o bispo da diocese e o pároco da Igreja Matriz. Segundo informações do Jornal O Dia, os representantes da cúpula da Igreja Católica regional teriam afirmado na reunião que a intenção é “readequar o altar” à lei de acessibilidade, mas admitindo a colocação de um novo painel a frente do atual.

Obra chegou a ser iniciada, com o muro de mármore já demolido. Abaixo, o croqui com o altar moderno (Fotos: Edson Alves/Agência O Dia e Divulgação)

Em nota, a Prefeitura de Barra Mansa citou que “o principal objetivo foi cumprir o Programa de Patrimônio Histórico-Cultural e de Tombamento previsto no Sistema Municipal de Cultura de Barra Mansa (Lei 4.602/2016)”. E que “nomeou uma comissão paritária entre sociedade civil e sociedade política composta por oito conselheiros, onde contará, ainda, com a participação de especialistas convidados”, que terá 15 dias, a partir da entrada do processo com o projeto técnico, pela Igreja, na Secretaria de Planejamento Urbano, para avaliar e emitir o parecer.

A nota ainda diz que o artista plástico Anderson, apresentou o projeto e todos os detalhes, destacando a “prioridade à acessibilidade ao presbitério, para que cadeirantes tenham acesso como todos”. O altar possui “forma circular”, com “aumento da área da celebração e a interação entre a assembleia e o altar”. O artista reafirma o que foi dito pelo padre Milan, em relação ao painel, principal alvo da polêmica, que será preservado atrás da parede de 1,20 m em gesso acartonado.

IGREJA INFRINGIU A LEI ANTES DE REUNIÃO
A reforma iniciada na Igreja Matriz ignora o que determina a Lei 4.602/2016 (Programa de Patrimônio Histórico-Cultural e do Tombamento Municipal). A demolição do muro do altar desrespeitou o Artigo 27, Parágrafo Único, que enumera como uma das áreas definidas como Setor Especial Histórico (SEH) a Igreja de São Sebastião e o átrio externo. O que significa que em seu Artigo 41, Parágrafo Único, a igreja só poderá “ser objeto de obras que visem sua restauração ou reforma, a juízo do Conselho Municipal de Cultura e da Secretaria Municipal de Planejamento, através da Assessoria de Pesquisa e Planejamento (APP), que promoverá a análise do projeto apresentado e a emissão do alvará de construção específico”.

A lei, no entanto, não é a única que defende o tombamento da igreja. No ano de 2015, foi aprovada no município a Lei 4.493, que em seu Artigo 32 determina que “a restauração, reparação ou alteração somente poderá ser feita em cumprimento aos parâmetros estabelecidos no Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural, cabendo à Fundação Municipal de Cultura a orientação e acompanhamento da execução”.

Ainda assim, apesar da paralisação das obras, a Prefeitura não informou se as mesmas ficarão embargadas.

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