Acordemos para a arte!

Chegou a primavera, mas o que me atinge em cheio nessa noite é o calor e não as flores. Sou tomado por uma força que jamais me deixará dormir. Por um lado posso me dedicar à crônica até que a madrugada entre fresca pelos meus poros e me relaxe as mãos suadas. Por outro me formiga uma vontade de sair por aí pedalando com o vento na cara. O calor é uma faca de dois gumes. E é preciso estar cansado para dormir sossegado.

Por aqui ainda vejo crianças brincando de pique esconde. Estão sujas, suadas e ofegantes para desespero das mães. Eu quero encontrar alguém. Solidão combina bem é com dia vão, frio e invernoso. O calor pede um brinde. E eu sempre achei constrangedor e decadente brindar com a garrafa fazendo dela um amigo analista com o qual se pode abrir o coração e as vísceras até o momento do vômito. Vou à janela e convido a primeira pessoa que passa. O sujeito desconversa, desconfia, larga uma desculpa pronta e sai agradecendo. Sabe-se lá o que vai dizer de mim assim que encontrar algum amigo.

Os insetos estão excitadíssimos! O pouco tempo de vida que têm não pode ser desperdiçado com tolices. Precisam crescer, acasalar e se alimentar. Acho que eles sequer dormem. Se minha expectativa de vida fosse tal como a de um inseto certamente não dormiria. Deve ser por isso que os insetos se abundam no verão. Dormem mesmo é durante o inverno, quando é realmente bom dormir.

Sejamos como os insetos! Nesse calor de primavera aproveitemos a insônia! Acordemos para a arte!

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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