Disputa presidencial no país é a maior desde 1989

Lula, Bolsonaro e Marina estão entre os três melhores colocados nas pesquisas de intenção de voto (Fotos: Arquivo)

Desde a redemocratização do Brasil, no ano de 1989, a eleição presidencial de 2018 terá o maior número de candidatos a presidência da República. Serão 13 candidatos, ao todo, que terão muitos desafios, desde pendências na Justiça, disputas partidárias internas e candidatos que enfrentarão a escassez de tempo de propaganda no rádio e na televisão, até a alta rejeição ou falta de popularidade e impedimento para participar de debate.

Após registrarem suas candidaturas, no último dia 15, eles já estão nas ruas atrás de votos dos eleitores, sendo que no rádio e na televisão o horário eleitoral só começa dia 31 de agosto. Além de Lula (PT), que tem a seu favor uma declaração da ONU na briga pela presidência (leia ao final desta matéria), outros nomes conhecidos como Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) também estão no páreo. Confira o perfil de cada um dos 13 candidatos:

Lula (PT) – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 72 anos, tem liderado os cenários para a eleição presidencial em 2018. Mas pode ser impedido de disputar a eleição, uma vez que foi condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro. Sentenciado a 12 anos e 1 mês de prisão, o petista pode ter sua candidatura barrada pela Lei da Ficha Limpa.

Lula teve a prisão decretada em abril, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) recusou o pedido de habeas corpus para que ficasse em liberdade até que se esgotassem todos os recursos. Seu vice é o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad – é esperado que ele assuma a cabeça da chapa caso Lula seja impedido de concorrer, tendo Manuela D’Ávila (PCdoB) como vice.

Jair Bolsonaro (PSL) – O deputado federal Jair Bolsonaro, de 63 anos, aparece em primeiro lugar nas pesquisas de opinião nos cenários eleitorais sem Lula. Bolsonaro trocou de partido para disputar as eleições. O deputado estava filiado ao PSC (Partido Social Cristão) e chegou a assinar a ficha de filiação do PEN (Partido Ecológico Nacional). Mas, em seguida, filiou-se ao PSL (Partido Social Liberal).

Em 5 de agosto, Bolsonaro oficializou o general da reserva do Exército Hamilton Mourão, do PRTB, como seu candidato a vice. Ele terá pouco tempo de propaganda no rádio e na televisão. Para estipular o tempo de cada candidato, leva-se em conta o número de deputados federais eleitos pelo partido em 2014. No caso do PSL, foram apenas dois. O tempo exato ainda não foi calculado pelo TSE, mas as estimativas para Bolsonaro, sem coligações, giram em torno de meros dez segundos.

Militar da reserva e professor de educação física, Bolsonaro é deputado federal desde 1991 – acumula sete mandatos por cinco partidos diferentes.

Geraldo Alckmin (PSDB) – O ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, de 65 anos, assumiu em dezembro a presidência do PSDB para tentar apaziguar o partido, que se dividiu entre ficar ou sair da base de apoio ao governo de Michel Temer (MDB). Seu principal desafio é romper a estagnação nas pesquisas de intenção de voto – por enquanto, o tucano ainda não conseguiu deixar a casa dos 7% de intenção de voto. No último Datafolha, Alckmin tem entre 6 e 7% da intenção de votos, atrás de Bolsonaro, Marina e Ciro Gomes – e em cenários sem Lula.

Além das muitas disputas internas que enfrenta em seu partido, Alckmin assumiu um PSDB desgastado pelas denúncias de corrupção contra integrantes, em especial as que pesam contra o senador Aécio Neves, que disputou as eleições presidenciais em 2014. Alckmin também foi acusado de receber R$ 10 milhões em quantias não declaradas da Odebrecht, o que ele nega.

Formado em medicina, começou a carreira política como vereador e, depois, foi prefeito de Pindamonhangaba (SP), sua cidade natal. Em 1994, foi eleito vice-governador de São Paulo e acabou assumindo o governo com o agravamento do estado de saúde de Mário Covas, em 2001. Perdeu a disputa pela prefeitura de São Paulo em 2008, mas voltou como governador em 2010 e foi reeleito em 2014.

Marina Silva (Rede) – A ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva lançou oficialmente sua candidatura em 2 de dezembro de 2017, pela Rede. De acordo com o último Datafolha, Marina está em segundo lugar em todos os cenários sem Lula, com entre 14% e 15% de intenção de voto, atrás de Bolsonaro. A ex-ministra vai precisar também responder a críticas de ser omissa em momentos em que muitos aguardavam um posicionamento firme sobre temas centrais ou disputas políticas, e de ter declarado apoio ao senador Aécio Neves no segundo turno das eleições de 2014.

Avessa a embates e a ataques, a própria candidata avalia que será uma campanha extremamente agressiva. Seu vice será Eduardo Jorge, do Partido Verde. Marina, que tem 60 anos, disputou as duas últimas eleições presidenciais, uma pelo PV e outra pelo PSB. Ela começou a carreira política no PT – onde chegou a ser ministra do Meio Ambiente, durante o governo Lula (2003-2010).

Ciro Gomes (PDT) – A candidatura presidencial do ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes, de 60 anos, foi confirmada em março de 2018 pelo PDT e oficializada no fim de julho. Por enquanto, é o nome ligado à esquerda que vai melhor nas pesquisas – só atrás de Lula. Segundo o Datafolha de junho, nos cenários eleitorais sem Lula, Ciro aparece em terceiro lugar, atrás de Bolsonaro e Marina, com entre 10% e 11% de intenção de votos. Os demais candidatos de esquerda não passam de 2% de intenção de voto.

A falta de aliados para fortalecer a candidatura é um obstáculo para Ciro – ao final da temporada de convenções partidárias, ele acabou isolado. Foi preterido pelo PSB (que optou pela neutralidade após um acordo com o PT), e pelo PC do B, que fechou aliança com os petistas. O estilo franco e impulsivo que há anos rende a Ciro a fama de “destemperado” pode ser um empecilho.

Ciro já foi prefeito de Fortaleza, deputado estadual, deputado federal, governador do Ceará e ministro dos governos Itamar Franco (Fazenda) e Lula (Integração Nacional). Sua vice será a senadora do PDT Kátia Abreu. Passou por sete partidos em 37 anos de vida pública. Já concorreu à Presidência duas vezes, em 1998 e em 2002.

Álvaro Dias (Podemos) – O ex-tucano Álvaro Dias, de 73 anos, ganhou fama no Senado por ser um ferrenho crítico da gestão petista e integrante ativo de CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito). No ano passado, ele trocou o PV pelo Podemos – antigo PTN – com a expectativa de se lançar candidato, mas ainda enfrenta o desafio de se tornar um nome mais conhecido nacionalmente, capaz de conseguir mais que os 4% de votos sinalizados pelas pesquisas.

Álvaro Dias cursou História e está no quarto mandato consecutivo de senador. Já foi vereador, deputado estadual, deputado federal e governador do Paraná. É de uma tradicional família de políticos do Estado.

João Amoêdo (Novo) – O ex-executivo do sistema financeiro João Amoêdo, de 55 anos, se afastou da presidência do partido que ele próprio ajudou a criar em 2015 para ser lançado pré-candidato à Presidência. Pelas regras do Novo, candidatos não podem exercer funções partidárias nos 15 meses anteriores à eleição. Amoêdo não é um candidato conhecido. Tem viajado o país para fazer palestras na tentativa de tornar-se mais popular. No Datafolha de junho, Amoêdo obteve no máximo 1% da intenção de votos.

Novato em eleições gerais, o partido de Amoêdo conta com o apoio de profissionais liberais, de economistas que ocuparam cargos importantes no governo de FHC, como Gustavo Franco, e tem entre seus quadros o ex-treinador de vôlei Bernardinho.

Formado em Engenharia Civil e Administração, Amoêdo começou a carreira profissional trabalhando para bancos e chegou a ser vice-presidente do Unibanco e membro do conselho de administração do Itaú-BBA. Atualmente, é sócio do Instituto de Estudos de Política Econômica/Casa das Garças.

Guilherme Boulos (PSOL) – Em março, o PSOL anunciou o nome do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, de 36 anos, como candidato à Presidência. A chapa terá como candidata a vice-presidente a ativista indígena Sônia Bone Guajajara, também do PSOL.

No Datafolha de junho, Boulos obteve no máximo 1% da intenção de votos. Para o deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ), é mais fácil o partido se coligar com movimentos da sociedade civil organizada do que com partidos políticos. “Há um descrédito muito grande, as pessoas estão com nojo dos partidos”, diz Alencar.

Boulos venceu a disputa interna no PSOL, que tinha como pré-candidatos os economistas Plínio de Arruda Sampaio Jr., Nildo Ouriques e Hamilton Assis, militante do movimento negro. Em julho, o partido oficializou a chapa formada por Boulos e Sônia.

Professor e escritor, Guilherme Boulos é formado em Filosofia pela USP, tem especialização em Psicologia Clínica pela PUC-SP e mestrado em Psiquiatria pela USP. É membro da coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, no qual milita há 16 anos, e da Frente Povo Sem Medo.

Henrique Meirelles (MDB) – O ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, de 72 anos, começou a construir a sua candidatura presidencial em abril deste ano, quando deixou o cargo no governo de Michel Temer e trocou o PSD por seu partido atual, o MDB.

No começo de agosto, a candidatura de Meirelles foi oficializada pela convenção do MDB – mesmo com a oposição de alguns caciques regionais do partido, como Renan Calheiros (Alagoas), Roberto Requião (Paraná) e Jarbas Vasconcelos (Pernambuco), entre outros. Meirelles teve 357 dos 419 votos dos convencionais, ou 85% do total.

Mesmo assim, a falta de popularidade ainda é um obstáculo a ser superado. No Datafolha de junho, Meirelles obteve 1% da intenção de votos.

A trajetória profissional de Meirelles está ligada à área financeira internacional. Antes de ser presidente do Banco Central, entre 2003 e 2011, no governo Lula, foi o principal executivo do BankBoston. Antes de assumir a Fazenda, Meirelles atuou por quatro anos como presidente do conselho de administração da J&F Investimentos, holding criada pela família Batista e controladora do frigorífico JBS, envolvido em escândalos de corrupção.

Vera Lúcia (PSTU) – A ex-operária Vera Lúcia, de 50 anos, foi lançada como cabeça da chapa presidencial do PSTU, que deverá ter como vice o professor Hertz Dias, da rede pública do Maranhão.

Vera é ativista sindical em Sergipe, ex-militante petista e ex-operária da indústria calçadista. Ela participou da fundação do PSTU em seu Estado, junto com outros ex-filiados do PT, depois que sua corrente foi expulsa do petismo em 1992.

A candidatura tem por objetivo apontar o que o partido considera a forma ilegítima e antidemocrática como são disputadas as eleições no Brasil. O PSTU considera que o objetivo final de um partido revolucionário não é disputar eleições, e sim organizar os trabalhadores para tomar o poder.

João Vicente Goulart (PPL) – No domingo, o Partido Pátria Livre oficializou a candidatura de João Goulart Filho à presidência, em um evento em São Paulo. O candidato do PPL é filho do ex-presidente João Goulart, o Jango (1919-1976), cujo mandato foi interrompido pelo golpe militar de abril de 1964.

Nascido no Rio de Janeiro, João Vicente passou a infância e a adolescência no Uruguai, onde sua família se encontrava exilada após o golpe militar. De volta ao Brasil, João Vicente ajudou na fundação do PDT, junto do tio Leonel Brizola. Durante a campanha, defenderá propostas nacionalistas e identificadas com a esquerda. Goulart terá como vice um professor universitário de Brasília, Léo Alves, também do PPL.

Eymael (DC) – José Maria Eymael foi oficializado como o candidato presidencial pelo partido Democracia Cristã (DC), em convenção no último sábado (28 de julho), em São Paulo. Esta será a 5ª vez que o advogado disputa a presidência da República. Ele terá como vice o pastor Hélvio Costa (DC).

Em 2014, Eymael teve apenas 0,06% dos votos – ele chegou a dizer que não disputaria mais a Presidência da República. O candidato da DC (antigo PSDC) é famoso pelo jingle de campanha, lançado em 1985: “Ey, Ey, Eymael, um democrata cristão (…)”.

Cabo Daciolo (Patriota) – Eleito deputado federal pelo PSOL em 2014 com 49 mil votos, Benevenuto Daciolo Fonseca dos Santos, mais conhecido como Cabo Daciolo, tem 42 anos e concorrerá à Presidência da República pela primeira vez. O bombeiro já foi filiado ao PTdoB e, hoje, está no Patriota (antigo Partido Ecológico Nacional). Daciolo terá como vice a pedagoga Suelene Balduino, também do Patriota.

Antes de iniciar sua carreira política, liderou uma greve de bombeiros em seu Estado de origem, o Rio, em 2011, quando chegou a ficar preso. Em 2015, logo depois de eleito, Daciolo foi expulso do PSOL por infidelidade partidária – a sigla entendeu que as posições defendidas por ele contrariavam o estatuto do partido.

COMITÊ DA ONU DETERMINA PARTICIPAÇÃO DE LULA
Uma declaração do Comitê de Direitos Humanos da ONU divulgada na última sexta-feira, dia 17, determinou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem direito de fazer campanha e disputar as eleições até que seus recursos legais sejam totalmente examinados. O comitê, que é formado por especialistas em direitos civis e políticos, deliberou sobre um pedido urgente apresentado pelos advogados de Lula em 27 de julho.

Segundo a declaração, o país terá que tomar “todas as medidas necessárias para garantir que Lula (…) possa exercer seus direitos políticos enquanto estiver na prisão, como candidato nas eleições presidenciais”. Ainda de acordo com o comitê, Lula só poderá ser desqualificado uma vez que “todos os recursos pendentes sejam completados em um procedimento justo e que sua condenação seja final”.

O Comitê, que tem sede em Genebra, é responsável pelo monitoramento das violações do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, bem como por um texto suplementar chamado Protocolo Facultativo. Como o Brasil ratificou ambos os textos, é tecnicamente obrigado a cumprir as conclusões desse comitê, de acordo com seus integrantes.

Mas a declaração vem dividindo opiniões. Na tarde do mesmo dia, o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, informou nas redes sociais que as decisões “tem caráter de recomendação e não possui efeito juridicamente vinculante”. Já os advogados de Lula defendem que a manifestação do comitê é uma norma e precisa ser atendida. “De que forma o Brasil vai cumprir isso não cabe a nós aqui discutir, mas não há opção. Deve cumprir, não é uma recomendação”, afirmou o criminalista Cristiano Zanin Martins.

Segundo a vice-presidente do comitê da ONU, Sarah Cleveland, o Brasil tem “a obrigação legal” de cumprir a recomendação “imediatamente”, embora esta não seja uma ordem judicial, pois o comitê não é uma Corte. Segundo ela, se o Brasil não cumprir, estará “violando” obrigações legais assumidas ao ratificar o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos.

Fontes: Correio Braziliense e BBC Brasil

Você pode gostar

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O limite de tempo está esgotado. Recarregue CAPTCHA.