Há uns 10 anos comprei um pincel para maquiagem em Banff, uma vila linda e civilizada que fica no Estado de Alberta, Ca. Não guardei o nome da marca e o lugar é tão longe e contra mão que ia ficar difícil pedir para alguém que fosse para aquelas bandas dar uma passadinha por lá e trazer outro.
Durante muito tempo acreditei ter encontrado o pincel perfeito e cuidei dele como uma jóia rara. De repente ele sumiu. Sem mais e sem menos. Fiquei triste e senti que nunca mais ia conseguir fazer a maquiagem que fazia com um outro pincel que não aquele. Passei tempos procurando e revirei o que era possível para encontrá-lo, sem sucesso. Foi então que dei o caso como perdido e comecei uma busca incessante por um que o substituísse. Experimentei vários, diversas marcas e diferentes formatos. Fui descobrindo as alegrias de outras formas, outros materiais, outras cerdas.
Um dia ele apareceu. Na verdade sem procurar e, por descuido, o encontrei caído e esquecido em um vão da gaveta onde era guardado. Improvável ter caído ali, mas foi nesse lugar que o reencontrei. No primeiro momento foi uma alegria sem fim. Depois, observando bem, vi que tinha comprado outros bem mais eficientes e que havia me adaptado a eles, agora sem dor e sofrimento.
Assim foram muitas coisas na minha vida que considerava fundamentais e imprescindíveis e que, quando tiveram que sair de cena, restou-me aceitar e exercitar a resiliência. Sobrevivi à perda e descobri outras alegrias e algumas, com honestidade, muito melhores.
Dessa forma vou aprendendo a me despedir, aprendendo a viver sem, a substituir. Hoje sei bem o valor daquele pincel, mas sei também que outros tem tanto ou mais valor do que ele teve. Guardo-o com carinho, mas já sei viver sem.
Ângela Alhanati
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Livre pensadora exercendo seu direito à reflexão