“De repente, do riso se fez o pranto”

“De repente, do riso se fez o pranto”

Assim é o início do Soneto da Separação de Vinícius de Moraes. Mas só no soneto é dessa forma. Nenhuma separação é de repente, não mais que de repente.

Toda separação se prenuncia muito antes do seu acontecimento, de fato e de direito. Toda relação tem o direito de terminar, mas negamos isso o quanto nos é possível, se esse fim contraria o nosso desejo de permanência.

“Fez-se do amigo próximo o distante.” Como viver com a ausência? A ausência não consentida? Quem deu a permissão? Quem autorizou tamanha amputação? A outra parte não está mais ao lado e reinventar a vida exige garra, coragem, determinação, amor próprio. Um bocado de boa vontade também.

Nessa hora conta-se com amigos, família, trabalho. Uma boa terapia tem o seu valor inestimável. Leituras são praticamente impossíveis, assim como qualquer coisa que necessite da concentração. Mas como praticamente não é impossível, tente. Deve-se fugir das músicas que possuam significado ou que sejam melosas e das fotografias que remetem a tempos felizes. Não ajudam em nada, acredite.

Não querer saber sobre a pessoa é uma excelente estratégia. Aliás, isso é uma tática de guerra pela auto preservação. Fuja dos “bem intencionados” (SIC) que sempre dão notícias: vi ali, estava assim, com amigos…Corte rente tão logo pressinta o discurso. Mesmo que a vontade seja cortar os pulsos de tanta curiosidade.

Mude o percurso, o caminho. Mude de bar, de restaurante. Mude de ares, respire diferente e mais fundo em outras paragens. Dê uma fugida breve, de leve, dos amigos comuns. Eles vão entender, claro que vão.

A gente fantasia que vai ser ruim, mas nem sempre é. Sugiro uma lista dos defeitos para grudar na porta da geladeira, no espelho do banheiro, na cabeceira da cama, na tela da televisão. A tendência é sentir saudade e lembrar somente das qualidades que um dia nos fizeram cair de paixão por aquele ser tão mortal quanto qualquer um outro vivente, mas por ser objeto da nossa querer, do nosso desejo foi elevado e enaltecido a um posto supremo que o destaca dos demais. Destitua-o do Olimpo. Dê ordem de despejo.

E comece a olhar para os lados. Olhe em volta com mais atenção. Olhe além e através. Mude o soneto: Fez-se do distante o próximo amigo.

Sofrer por amor só é lindo na poesia. Serve para vender literatura. Vire a página e rescreva uma nova história. De superação. De super ação! Desafie-se.

Ângela Alhanati
contato@angelaalhanati.com.br
Livre pensadora exercendo seu direito à reflexão

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