Para Crer

O chão é redondo. É, ele roda, vai, segue, contorna e volta aqui para debaixo dos nossos pés. É preciso acreditar em nosso poder de lagartixa, subindo pelas paredes com habilidade, sem cair nem derrapar. Quem já viu e entendeu um cálculo capaz de demonstrar a lei da gravidade? Bem menos da metade de nós que agora lemos essa crônica. Eu mesmo não estudei essa lei como uma evidência matemática. Entretanto, aprendemos a creditar nela. Falamos seu nome para as crianças, escrevemos e crescemos com ela.

Bem, mas para que toda essa elucubração preliminar senão para dizer do quanto de força que está contido no ato de acreditar. Junto a isso há também a importância de escolher bem aquilo no qual acreditamos. As coisas nas quais cremos ganham realidade. Tornam-se vivas e, às vezes, até mesmo ganham imortalidade. É por acreditar em algo que as pessoas morrem, criam monumentos, brigam, vivem, choram, comemoram e se esforçam. Contudo não sejamos ingênuos, acreditar é perigoso, tal como o é viver. Mas, nem por isso, vamos deixar de viver, tampouco devemos só viver, sem em nada acreditar.

Há homens que inventam coisas para poder acreditar. Há outros que só acreditam em si mesmos. E encontramos ainda aqueles que necessitam de alguém em quem acreditar. Todos eles temo menos do que aqueles que inventam objetos para a crença alheia, quando eles mesmos não acreditem em nada.

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

Você pode gostar

One thought on “Para Crer

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O limite de tempo está esgotado. Recarregue CAPTCHA.