Mensagem instantânea

Ficou preocupada. Há quatro minutos enviara uma mensagem e ele sequer visualizara. Era uma pergunta simples: Onde vc tá? Ela olhava para o telefone que advertia, com dois traços ainda cinza, que a mensagem já havia chegado. O que o destinatário estava fazendo que ainda não lera a mensagem era exatamente o que a preocupava. Em quatro minutos a noite inteira já podia ter mudado de rumo. Talvez somente ele houvesse mudado de rumo, ela pensou e escreveu: Responde. Em seguida ficou olhando para a tela brilhosa, a mensagem saiu – um traço cinza – chegou ao telefone dele – dois traços cinza – e então encalhara invisível ou ignorada como a outra. Sentiu-se atraiçoada e ficou furiosa. Gravou um áudio. Mas a essa altura dos acontecimentos já havia suspeitado de concubinato, de forma que não mediu as palavras proferidas e por isso não posso reproduzir aqui sequer um trecho da gravação.

Depois disso, ela quis mais que o ônibus passasse logo. O sinal estava fechado. Quando abriu, uma fileira de coletivos apontou com os faróis empinados; procurou o 238, mas o celular tocou. Era ele. Ela sequer titubeou, atendeu perguntando ao que ele disse ter tido o celular roubado. Você acha que eu sou palhaça? Ele disse que correu atrás do ladrão, houve gente solidária, fizeram muito barulho, chegou a polícia e ele recuperara o aparelho. Você tá onde? No ponto da rodoviária? Não vai pra casa, não. Vamos comer uma pizza. Ele convidou. Ela ainda estava raivosa e, antes de aceitar a pizza e a história, lhe disse respirando mais calma: Correr atrás de bandido, Cristiano? Você tá pensando que é de ferro? Tá machucado?

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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