A impressora do Haroldo

Foi em uma terça-feira. Um dia nublado desses que não incomodam, pois carentes de sol quente que queime ou chuva fria que molhe. Haroldo imprimia em casa o certificado do curso rápido que fez sobre aproveitamento de cascas de alimentos. De repente a tinta foi acabando e faltou tanto o vermelho da melancia quanto o laranja de uma mexerica que formavam a logomarca.

Haroldo se inteirou sobre métodos de recarga de cartuchos em casa. Adquiriu o equipamento, porém nada funcionou. Por fim, o fracasso da empreitada, o fez comprar um cartucho novo no dia seguinte. Pois bem, chegou do trabalho munido da peça, instalou-a, mas a impressora não reconhecia a nova parte de si mesma. Haroldo pesquisou, baixou softwares e foi dormir exausto e novamente sem sucesso.

Acordou e levou a impressora a um técnico. Em dois dias recebeu a notícia de que o aparelho não tinha mais jeito. Haroldo voltou para casa e agora teria de saber como se desfazer do aparelho. Aquilo não era um lixo tal como o jornal de ontem. Por isso não encontrou um lugar para descarte. Chegou ao ponto de andar com a impressora durante semanas dentro do carro. E a noite, quando passava em frente a uma caçamba de entulho, sentia uma vontade forte de dizer “Dane-se, hoje vou fazer!”. Mas Haroldo não fazia.

E foi assim que pensou em queimá-la, quebrá-la em mil pedaços, guardá-la para sempre dentro do guarda-roupas. Não fez nada disso. Eram todas péssimas ideias.

Por fim, serrou a parte de cima daquela impressora desativada. Tapou com durepoxi um buraco lateral e enfim encheu-a de terra onde plantou uma muda de espada de São Jorge.

Prometeu que nunca mais compraria uma máquina dessas. E agora tem até conta na Xérox do Wagner, a quem paga sempre nos sábados.

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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