Em pleno calor do meio da tarde

Em pleno calor do meio da tarde o homem trabalha. Montado em sua roçadeira ele decepa o capim e sua. Em pleno calor do meio da tarde outro homem cochila. Nenhuma preocupação lhe tenciona o corpo e a cabeça vai caindo para trás até encontrar pouso em qualquer coisa. Em pleno calor do meio da tarde outro homem mais bebe sozinho uma garrafa de cerveja gelada. Esse não trabalha nem descansa e diz que bebe por causa do calor. Em pleno calor do meio da tarde há ainda mais um homem – é que o mundo está cheio deles -, entretanto esse bebe café. Um café quente de mostrar fumaça, de fazer transpirar o alto da xícara. Esse bebe porque quer beber. De forma que não procura motivo no sono, no trabalho tampouco na temperatura. Dizem que é o mais legítimo de todos, no entanto eu não me arrisco a tais julgamentos precipitados.

Em pleno calor do meio da tarde o homem se pergunta se já saiu o pão da tarde. É que onde ele mora a padaria não tem hora como tem o relógio. Em pleno calor do meio da tarde o poeta quer que algo lhe inspire, mas o calor é tão grande, o bafo do dia tão impertinente que não há moça que passe ou rapaz que se atreva. Em pleno calor do meio da tarde o homem precisa resolver seus problemas. E nessa hora chega a pensar que entre os trópicos, no verão, o horário comercial deveria ser em qualquer outro momento, exceto em pleno calor do meio da tarde.

Em pleno calor do meio da tarde, o que mais há são homens em pleno calor no meio da tarde.

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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