Eu e boa parte dos seres humanos

Eu e boa parte dos seres humanos que chafurdaram o pé na jaca nas festas de fim de ano estamos com um peso louco na consciência e um desejo desenfreado de emagrecer os quilos que ganhamos de presente sem ter pedido nada.  Ao menos, eu, pedi para comer sem engordar.

Então travamos uma guerra insana contra a balança e começamos a experimentar todas as opções que nos são apresentadas como milagrosas, rápidas e maravilhosas. Dieta do suco, da sopa, cortem glúten e lactose, comam orgânicos, não comam nada, jejum, reza e vela colorida para queimar toxinas.

As academias ficam cheias. Os calçadões lotados de caminhantes, pessoas de bicicleta e todo mundo se exercitando.

Isso tudo porque quase ninguém considera que o cuidado deve ser durante o ano todo, a vida toda e não somente em uma estação ou em função dela.

No hotel em que me hospedei nesse recesso de fim de ano pude observar as pessoas durante o café da manhã. Claramente se via que o tipo de refeição matinal que elas costumam fazer durante o ano é bem diferente. A esmagadora maioria se comportavam como se tivesse que comer tudo e não perder a oportunidade de nada. Dava para pensar que o mundo ia acabar e se não comessem os pãezinhos, os brioches, os bolinhos ou as omeletes nunca mais na eternidade teriam essas alegrias. E, no dia a dia, é isso que acontece: repetimos o padrão do “não posso perder a chance”. Não nos ocupamos de não perder a oportunidade de uma vida saudável e sem excessos. Comer de tudo, sim, mas com parcimônia, como diria meu saudoso pai.

Quando viajava para Curitiba de ônibus ficava sempre horrorizada com as pessoas que desembarcavam nas lanchonetes onde os ônibus faziam a parada obrigatória e voltavam para os seus lugares munidas de coxinha e coca cola. Oras, eu não acordo no meio da noite para comer salgadinhos e me empanturrar de refrigerante. Por que, então, deveria fazer isso durante a viagem? E essas pessoas? Teriam elas esse hábito?

Dosar e não se arrepender pelos excessos parece-me uma saga humana. Nosso destino é a luta entre o excesso e a falta, buscando sempre o caminho do meio, chamado por Aristóteles de Estagira de virtude.

Não conseguimos manter uma rotina de hábitos saudáveis e na primeira oportunidade nossa escolha é a libertação que sempre rende alguns arrependimentos.

Feliz ano novo!

Ângela Alhanati
contato@angelaalhanati.com.br
Livre pensadora exercendo seu direito à reflexão

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