Era uma vez um país muito distante cheio de palmeiras e sabiás. Do chão as árvores cresciam dando frutas em cachos e pencas; pelos rios escorriam águas claras para se banhar e pescar. E mar não havia maior que o daquele país cujas festas de longe se via e ouvia.
A gente desse país tanto vivia como sempre vivia que alguém se embestou em lhe dar forma e governo. Nome e sobrenome. Ordem e progresso. Organizaram reunião, mas a gente era tanta e a sala tão estreita que julgaram melhor por a maioria a esperar lá fora. Sorte dessa gente haver tanta palmeira para dar sombra e sabiás para distrair os ouvidos. Quando se abriram as portas estava tudo assinado e foi uma só comemoração: a prosperidade futura dependia da privação de quem estivera fora da sala. A festa varou a madrugada, porém a gente toda não pudera participar, pois no dia seguinte pegaria cedo no serviço pesado.
Com forma, governo e progresso esse país muito distante foi se aproximando de tantos outros. Mais um tanto e ficava sem frutas em cachos e pencas. Pobres das palmeiras do entorno da pequena sala de reuniões que já haviam sido submetidas a boas doses de houndup.
Hoje esse país está perto de tudo. E por isso se sentencia a vinte anos árticos de inverno. Por isso, de seu povo, sobreviverão apenas aqueles que tiverem grossa camada de gordura para suportar a rigorosa frieza inventada.
Quanto às sábias, há quem diga que colonizaram Marte.
Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br
Parabéns!
“Hoje esse país está perto de tudo. E por isso se sentencia a vinte anos árticos de inverno. Por isso, de seu povo, sobreviverão apenas aqueles que tiverem grossa camada de gordura para suportar a rigorosa frieza inventada.”