Causou espanto e revolta

Causou espanto e revolta a notícia veiculada no feriado do dia 15 de novembro de que um pai matou o seu próprio filho. E, segundo informado pela mídia, o motivo teria sido o engajamento do menino em movimentos sociais como ocupação de unidades de ensino como protesto à PEC 241, o fim da cultura do estupro e a legalização do aborto, dentre outras lutas, coisa que o pai condenava e ameaçava uma tragédia se houvesse a perpetuação nas atividades políticas. Cumpriu o prometido.

Muito simplório pensar que esse foi o verdadeiro motivo, ou seja, a militância e o pensamento político em desalinho com os entendimentos sociais do genitor. O fato é que esse pai devia ser portador de algum transtorno mental e nunca amou verdadeiramente esse filho, por isso buscou motivos para o maltratar durante toda existência, encarcerando-o em casa e o aprisionando em suas exigências e demandas insanas.

Esse foi certamente um caso extremo que culminou na morte de ambos. Mas o que dizer dos pais que fazem o mesmo em escala menor? Estou falando dos pais que depositam em seus filhos suas expectativas de realizações narcisistas e não toleram quando os filhos se lançam ao mundo em busca da construção da própria identidade, exercendo a liberdade de ser e estar no mundo, construir sua essência e refletir por meios próprios.

Pensem em quantos pais colocaram seus filhos porta a fora ou simplesmente vociferaram sobre o rompimento do vínculo pai-filho mediante alguma notícia que contrariava suas expectativas? Como exemplo, uma gravidez indesejada ou a informação da orientação sexual contrária ao gênero do nascimento.

É óbvio que os pais não precisam aceitar delinquências e rebeldias que provocam efeitos deletérios em seus próprios filhos, na família, na sociedade, mas devem, sim, aceitar que os filhos necessitam se construir como pessoas responsáveis por seus atos e devem se apropriar de sua história. Escolher a profissão, com quem se casar ou mesmo se querem se casar, ter filhos, morar em outro país, militar politicamente ou até romper com as tradições familiares e a religião em que foi criado.

A maior prova de amor que podemos dar aos filhos é permitir que se construam livremente de forma responsável, orientados nos preceitos éticos e morais, mas principalmente, ensinados a pensar e a refletir sobre sua história e sobre a marca que deixarão no mundo. Os filhos, como seres humanos, não podem ser entendidos como nossa extensão, mas como a continuidade livre para o bem.

Ângela Alhanati
contato@angelaalhanati.com.br
Livre pensadora exercendo seu direito à reflexão

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