Beleza até depois da curva

Toda estrada era margeada por grandes paredões de pedra até depois das curvas. Era uma pedra lisa, talhada, afiada. Uma pedra cor de prata suja. De prata velha, falsificada, encardida. Mas era sim uma cor que brilhava debaixo do sol. Com atenção dava para ver a pedra formada pelas camadas de minério e tempo, minério e tempo um sobre o outro formando lâminas finas que se iam reforçando geologicamente.

Aqui e ali as lâminas de pedra formavam degraus. Tinha-se o espaço suficiente para uma árvore, e eis que então havia uma árvore de folhas muito verdes. Talvez o tanto de verde surgisse do contraste com a cor de prata suja das lâminas de pedra. Fosse qual fosse a causa, eram as folhas mais verdes que eu já vira nesta vida.

Havia outros espaços entre as pedras. Às vezes eram tão grandes que formavam platôs, halls, saquãos, sacadas sobre os quais nascia mais verde exuberante e o espetáculo então enlouquecia qualquer par de olhos. Como os opostos eram tão excepcionalmente opostos e ainda assim tão magnificamente belos! Tanto as Lâminas de pedras cor de prata suja formando paredões rochosos afiados como o verde dos arbustos que neles se equilibravam eram belíssimos!

A estrada era inteiramente assim. E também o sol, brilhando forte, ressaltava a cor das pedras num alumio de lua cheia tanto quanto a cor das folhas acendendo sua seiva numa fluorescência elétrica.

Só de vez em quando era que uma lambada de vento açoitava meus olhos com uma poeira quente. Para sorte da apreciação bastava esfregar com as mãos, lacrimejar um tanto e ver: até depois da curva continuava a beleza!

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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