Assisti a um vídeo sobre o treinamento de alguns atletas paraolímpicos e fiquei impressionada com a tenacidade daquelas pessoas. Isso sim é esporte de verdade! Por que se já não é fácil ser atleta em condições normais, imagine tendo que vencer barreiras e obstáculos fora do normal?
Tente andar pela cidade privada de um de seus sentidos. Ou tente usar uma cadeira de rodas. Se houver dificuldade para a experiência, apenas pense no quanto seria difícil passar por calçadas esburacadas, sem rampas de acesso, frequentar lugares totalmente despreparados para os cadeirantes.
Aqui mesmo na cidade existe uma universidade que se preocupou em colocar guia para deficientes visuais se orientarem pelos espaços. Sabe onde ela termina? Embaixo da escada. Juro! Se seguir as guias amarelas, faixas com relevos para orientação, elas o levará para o nada. Já me deparei com essas faixas com postes no meio, que terminam em pontos de ônibus e até o cúmulo de pintarem no chão a faixa de vermelho. É para deficiente visual! OI?
Não estamos preparados para as pessoas portadoras de necessidades especiais. Não sabemos nos comunicar com os deficientes auditivos, não sabemos conduzir os deficientes visuais e nem sabemos transportar os cadeirantes. Não fazemos ideia das dificuldades que essas pessoas passam para viver em um mundo que não se importa com elas. Se para a gente não é fácil, imagine para essas pessoas?
E o evento esportivo está a toda. Mas não observo as pessoas muito entusiasmadas a acompanhar. Nem mesmo os meios de comunicação estão dando a esse encontro a importância que deu ao outro, onde pessoas sem deficiência rompiam suas barreiras e limites pessoais.
Convenhamos que esse é muito mais desafiador e muito mais compensatório do ponto de vista da conquista e da superação humana. Por que, então, não causa tanto furor e nem traz a avalanche de patriotismo há duas semanas tão empolgadamente observada?
Se pensarmos bem, nós que não desafiamos nossos limites somos os verdadeiros deficientes. Os deficientes da força de vontade para mudar o curso da história. Para mudar o mundo.
São muitos os valores que precisam ser revistos. Os valores que estão em voga são muito deficientes.
Ângela Alhanati
contato@angelaalhanati.com.br
Livre pensadora exercendo seu direito à reflexão
