Foi na rua Azevedo da Silva, nº 809, às 19:45. O sujeito entrou pela porta da frente rendeu o porteiro e tomou o elevador. Saltou no quinto andar com o plano suicida de assaltar todos os escritórios em que ainda houvesse luz acesa. Mas quando saiu do elevador só havia sinal de vida no escritório de advocacia Lourenço&Aguiar. Movido pelo ímpeto da ação criminosa, foi empurrando a porta e procurando alguém para que lhe ouvisse o grito: Cale a boca que isso é um assalto!
Demorou até a secretária aparecer e isso atrapalhou um tanto a explosão da abordagem. Enfim, chegou uma senhora de coque bem armado sobre a cabeça, boca e unhas pintadas. Então o assaltante encheu o peito para anunciar a investida. Ao que sem qualquer insignificante espaço de tempo levou na ponta do nariz o encontrão de um processo de quinhentas páginas. Como não esperava, o golpe o tonteou significativamente.
Desconsiderando por completo a capacidade de revide do adversário, a secretaria lhe empurrou uma cadeira preta, de rodinhas, ao encontro das canelas. Em seguida foi atirando todos os carimbos de que dispunha, inclusive aqueles há tanto ociosos. Era como receber chumbo de uma metralhadora poderosíssima.
Àquela altura a polícia já estava a caminho, pensou o assaltante, antes de levar nas costas uma cravada de unhas que para cicatrizar demorara semanas. Quando chegou ao corredor estava ofegante, de mãos trêmulas e olhos arregalados. Avançou pelas escadas e desceu sem olhar para trás.
Veio se jogando pelos degraus até a portaria onde encontrou com os polícias que lhe gritaram: Mãos para cima! O assaltante acatou o pedido. Olhou para trás e conferiu que a secretária não descera. Quando o policial lhe veio algemar disse trêmulo: Quero fazer uma queixa. Acabei de ser brutalmente atacado por uma secretária.
Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
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