Esse mundo perigoso no qual vivemos

De repente um cachorro latiu e foi como um alarme suficiente para derramar latidos desvairados pela rua toda. Parecia que o assaltante buscava sorrateiramente uma brecha. Era claro que algum perigo, alguma estranheza, rondava as cercanias. Os cães todos buzinando dentro da noite de lua. E se os meliantes estivessem armados? Usavam capuz?  Bem, sobre isso os cães não depunham.

Era hora de meio da noite. O homem que chegava tarde do trabalho na empresa de ônibus já estava deitado. E também o padeiro que acordava cedo para assar os pães não havia ainda se levantado. Estavam todos em suas casas. Poderiam uns ajudar os outros. Mas como? Como saberiam onde os meliantes invadiam? E os cães latindo num desespero de incomodar a coragem dos homens.

Aos poucos um e outro se levantaram para olhar pela janela. Dentro da noite ninguém via os meliantes. Podiam estar escondidos no mato. Armados? Como saber? Os cães latiam e o trocador de ônibus e o padeiro tinham uma noite tão difícil quanto o dia de todo dia. Tudo por causa desses vagabundos! O que querem?

Devo dizer que a barulheira não tinha causa em qualquer embusteiro. Era fruto de um lindo gato de olhos acesos vagando pela noite. Deixava os cães invejosos e injuriados, mas eu não tenho cacife para especular o porquê dessa relação.

Fato é que jamais vou avisar a vizinhança que o furdunço canino durante a noite foi causado pelo perambular do gato. Afinal, do meliante todos se protegem dentro de casa. Mas contra o gato colocarão veneno na calçada ao pé das plantas. Na manhã seguinte direi a todos que o mundo de hoje está muito perigoso.

Rafael Alvarenga
Escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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