Onde chegamos?!

A vacinação contra o vírus H1N1 em Resende quase vira caso de polícia. Na verdade, ainda há chances de virar porque apesar de terminar dia 20, o secretário de saúde, Daniel Brito admitiu que o grupo prioritário ainda não foi vacinado em sua totalidade. A estratégia adotada pela Secretaria Municipal de Saúde, desviada da proposta da Secretaria Estadual de Saúde, se mostrou equivocada, junte-se a isso a total falta de interesse do governo em priorizar a ação com mais informações, uso da mídia para a organização e mobilização do próprio governo. E por que isso era necessário? Porque Resende figura mais um ano com tristes estatísticas de morte por uma doença.

Ano passado a epidemia da Dengue registrou nove mortes, este ano temos a segunda epidemia de Dengue traz mais de 1.700 notificações até agora, a diferença é que com maior controle no diagnóstico e tratamento foram mais eficientes evitando mortes. Tenho conhecimento de um caso de morte suspeita no início do ano, mas o que nos chega tem demonstrado maior controle. Uma epidemia aparentemente com menos mortes, mas os prejuízos são incalculáveis ao município e não me venham com aquela conversa de que os focos estão, na grande maioria, dentro das casas. Não estão. Essa nova epidemia comprova isso.

Como se não bastassem Dengue e o assustador vírus da Zika, em especial às gestantes, e ainda a ameaça da Chikungunya chegou esse ano a gripe provocada pelo H1N1 e matando e vejam só, Resende tem quatro mortes confirmadas e outras sendo investigadas. Mais uma vez, o município se destaca negativamente no cenário do estado do Rio de Janeiro e do país. Por isso que a mobilização de todo o governo para imunizar os grupos prioritários não poderia ter sido negligenciada. Mas foi. E pior, deu espaço para uma corrida histérica e descabida de pessoas que não pertencem ao grupo prioritário e que mentiram, pediram aos médicos amigos que falsificassem laudos com doenças crônicas para que pudesse passar a frente das crianças e dos velhos. Lembrei do filme Titanic. As pessoas pisando nas outras, deixando crianças e mulheres pobres presas em alas inferiores para que pudessem alcançar os botes salva-vidas. Li nas redes sociais jovens aparentando menos de 25 anos admitindo “meu pirão primeiro”. Li outros indicando a malandragem de como conseguir um laudo.

Lamentável.

Ciente do risco de ter a população que prioritariamente necessita da imunização não contemplada com as vacinas, a Secretaria Municipal de Saúde resolveu agendar esses grupos para as poucas doses que restam. Os idosos foram feitos de bolinha de pingue-pongue pra lá e pra cá nas unidades de saúde, assim como as mães com suas crianças pequenas. Uma desconsideração imperdoável. Boa parte deste problema poderia ter sido evitada se os profissionais coordenadores e o próprio secretário de Saúde compartilhassem mais as estratégias com o Conselho Municipal de Saúde. Uma simples apresentação do que pensam já é o suficiente para que os conselheiros se manifestem, porque são os conselheiros que estão na ponta, junto com os usuários e profissionais de saúde, mas isso não aconteceu.

Esperamos, quem sabe um dia, que os técnicos da saúde tenham humildade para ouvir os leigos, assim como observarem suas dificuldades, sem a defesa corporativa que sempre quer achar um culpado. E esse culpado, advinha pra quem sobra?

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
É também conselheira municipal de saúde representante dos usuários
analucia@jornalbeirario.com.br

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One thought on “Onde chegamos?!

  1. Cara jornalista,
    Creio que a estratégia adotada, desde o inicio, foi adequada e teve como objetivo dar um mínimo de proteção a todas as faixas de risco, notadamente, os idosos e crônicos. E foram essas faixas que tiveram os maiores percentuais de imunização, até as doses aplicadas no dia D. Nada foi feito da cabeça de ninguém, senão, através dos dados de cobertura que os mapas de vacinas diariamente apontavam. Após o dia D, adotamos uma estratégia para trazer de forma uniforme todas as faixas para o nível que o ministério propunha. Dai, o agendamento realizado com objetivo de atingir um público de faixa específica e nossos munícipes. Não tenho dúvidas que a estratégia adotada foi eficaz, haja vista o percentual uniforme de cobertura em todas as faixas do grupo de risco que estão expressos nos mapas do PNI WEB.
    Infelizmente, o pânico que foi instalado causou uma grande corrida à imunização nunca evidenciado, fazendo com que pessoas sem indicações batessem na porta das unidades de saúde com atestados falsos e outros artifícios para uma briga em que a quantidade de vacinas enviadas pelo estado não contemplava.
    Apesar de tantos contratempos, conseguimos atingir uma faixa de cobertura dentro do município que, certamente, vai diminuir a circulação do vírus com a redução dos casos fatais.

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