Assinatura e carimbo de médico-vereador apontam fraude no SUS em Resende

assinaturasO jornal BEIRA-RIO teve acesso a um bloco com 50 folhas de pedido de exames de Raio-X pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Resende, com assinatura e carimbo do vereador Irâni Ângelo (PRP), sem nome de pacientes ou data, podendo ser usado por qualquer pessoa em qualquer período. O assunto causou espanto e preocupação entre os conselheiros municipais de saúde que estiveram na tarde desta quinta-feira, dia 12, na Secretaria Municipal de Saúde, onde parte do bloco foi entregue ao secretário Daniel Brito. Os conselheiros pediram apuração rigorosa por parte da Secretaria Municipal de Saúde sobre o possível favorecimento ao Resende Futebol Clube.

Segundo a denúncia, a prática é de longa data e os blocos assinados pelo vereador ficariam em poder do Resende Futebol Clube. O vereador Irâni Ângelo negou que tenha assinado blocos inteiros de encaminhamentos de exames e acredita que a denúncia apareceu porque ele é oposição ao governo Rechuan. “Devo estar incomodando muito politicamente. Não sou maluco de assinar uma coisa assim. Isso é fraude. Vou fazer um boletim de ocorrência para que possam descobrir que está fazendo isso”, disse o vereador em entrevista ao jornal BEIRA-RIO. Na imagem, à esquerda uma das folhas que indicam fraude no sistema SUS com a assinatura e carimbo que o médico disse ter sido falsificada, no detalhe à direita uma receita atual exibe aponta muitas semelhanças à assinatura do vereador.

Ao mostrar uma das folhas para o Irâni Ângelo, inicialmente disse que a assinatura sim parecia a dele, mas depois ao saber que tinha um bloco afirmou que a assinatura foi falsificada. “A assinatura é minha mesmo, está igualzinho, acho que fizeram uma xérox, porque está no mesmo lugar em várias folhas do bloco. Isso não seria possível, só se usasse uma régua. E não é o papel usado atualmente no posto”, comentou. Mas o secretário de Saúde confirmou que o formulário do pedido é o usado na rede púbica do município.

O vereador afirmou que nunca prestou serviços ao clube de futebol e que jamais assinaria os encaminhamentos, por acreditar que se trata de uma fraude. “Isso é uma fraude. Meu carimbo nem fica comigo, fica no programa DST Aids há anos. O médico do Resende é o Álvaro Machado, só atendo no programa de Aids no posto na quinta-feira. Não tenho obrigação de fazer encaminhamento pra Raio-X de ninguém, não sou médico do Resende, não sou ortopedista. Não tenho vínculo com o clube. Uma vez perdi meu carimbo há cinco ou seis anos, se tem meu carimbo é fraude e tem que saber quem fez a fraude, vou à Delegacia”. O JBR ouviu o médico Alvaro Machado que disse desconhecer o assunto: “Sou o médico do Resende Futebol Clube e desconheço essa informação. Todos os exames que peço são feitos na rede particular, pagos pelo clube”, explicou.

O assunto também foi denunciado ao Ministério Público no início da noite de quinta-feira, dia 12, pela editora do jornal BEIRA-RIO: “Considero o assunto muito grave. Recebi a denúncia para o jornal, mas como estou conselheira municipal de saúde não posso considerar apenas como notícia um bloco de pedidos de exames assinado circulando na cidade, enquanto tantas pessoas doentes estão tendo dificuldades para marcar seus exames. Fiz a denúncia aos órgãos competentes que têm condições de apurar e verificar a veracidade da assinatura que o vereador disse ter sido falsificada”, disse Ana Lúcia.

O vereador Irâni reafirmou que está sendo vítima de perseguição política: “Na outra eleição disseram que eu não era médico autorizado a atender no Detran-RJ, sendo que sou médico perito do Detran há 12 anos. Só no programa de aids já trabalho há 20 anos. Em 2014 lançaram inúmeros papeis na cidade dizendo que eu fraudava o INSS e o Detran. O presidente do sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda fez uma acusação indevida e teve que pedir desculpas e a história do Detran ainda corre na Justiça. Nem que me pedissem faria qualquer encaminhamento para jogador de futebol. Bloco de Raio X tem em qualquer lugar. Tenho 24 anos de formado. Terminando meu mandato de vereador eu não seria burro de carimbar nada assim”, concluiu o vereador.

Não é a primeira vez que o Resende Futebol Clube aparece como “beneficiário” de ações do governo municipal de Resende. Em 2012, depois de denúncia do BEIRA-RIO, a prefeitura rescindiu convênio que previa repasse de mais de R$ 700 mil anuais para o Clube para implementação de um programa. Antes, o MP da Tutela Coletiva já havia iniciado uma investigação de uso do dinheiro público para patrocinar o time. E na área da saúde não é a primeira vez que aparece uma denúncia envolvendo o RFC: os jogadores chegaram a usar a piscina do centro de hidroterapia voltada para os pacientes do SUS como uma das etapas do treinamento esportivo. O privilégio ilegal foi descoberto pelo secretário de Saúde, que proibiu o uso do espaço público.

Foto: Reprodução da internet

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