“Bela, recatada e do lar”

Foi realmente muito infeliz a matéria veiculada por uma revista semanal em que cita a esposa do vice presidente, Marcela Temer, como modelo a ser instituído como o desejável, aceitável pela sociedade brasileira como representativo da nossa nação.

O fato é que a reportagem trouxe para a primeira cena e deu destaque à Marcela, que vive sua vida reclusa e silenciosa, mas que só e somente ela sabe como deve dar conta de seu casamento de treze anos, um filho com sete, com uma pessoa quarenta e três anos mais velha. Não sabemos da vida dessa moça até que haja um evento político onde ela aparece, não abre a boca e sai dele linda e maravilhosa, sem se comprometer, sem dar a cara à tapa e sem criar polêmicas.

A luta de ativistas pelo feminismo, pela libertação, pelo fim da opressão é árdua e esse tipo de veiculação em nada colabora com a causa justa, urgente e necessária, que por mais árdua que seja ainda não alcança muita gente que parece viver em um aquário, uma bolha de felicidade, vendo o mundo através do esteticismo fabricado.

Sabemos que o modelo “bela, recatada e do lar” não deve ser seguido e instituído por pressão social, a não ser que seja a escolha da pessoa. Eu mesma não sou nada disso, mas sei de pessoas que escolheram ser assim e são bem felizes.

Entretanto, as pressões dos movimentos sociais para que as mulheres se libertem, sejam boas mães, amamentem, sejam malhadas, profissionais, boas de cama, gostosas, jovens, inteligentes, empreendedoras, ativistas políticas, engajadas também oprimem as que não desejam nada disso e querem continuar belas, recatadas e rainhas do lar. Qual o problema?

Devemos possibilitar a cada um escolher aquilo que seja o seu desejo, a sua vontade, seu querer e não que seja escolhido por pressão. Cada um sabe ou deveria saber a dor e a delícia de ser o que é e não ter sua vontade cerceada por pressões sociais, sejam elas quais forem.

Vamos lutar sim, mas para que as pessoas tenham vozes e se libertem de suas amarras, mas principalmente, para que elas sejam o que querem ser, sem que isso as menosprezem e as diminuam como ser humano.

Estamos nesse mundo para sermos felizes e vivermos conforme nossas convicções e ideais. Portanto, foco na luta e esqueçam a Marcela que, pelo visto, não faz nenhuma questão de ser exposta nem pelo bem e muito menos pelo mal.

Qualquer movimento que se pretenda libertador não pode oprimir, mas, antes, prever, respeitar e garantir a legitimidade dos desejos e das subjetividades humanas.

Ângela Alhanati
contato@angelaalhanati.com.br
Livre pensadora exercendo seu direito à reflexão

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