Sonho

Eu ouvi a mulher falar sobre seu sonho. Queria aprender a preparar quitutes para uma festa inteira. Quitutes por encomenda para uma festa alheia. Seriam doces polvilhados, bolos recheados e salgadinhos desses que cabem na boca a partir de uma única e gulosa mordida. Seu sonho, contava apertando uma mão dentro da outra, tamanha era a ansiedade para sua realização, era ter uma cozinha azulejada – ainda que fosse só naquele cantinho onde se sentasse para dar sabor as receitas –, um pequeno freezer e o saber suficiente para fazer. Quanto trabalho! Era esse seu sonho. Um sonho esplendoroso pelo fato único e milagroso de ser um sonho. De ser dito com nervosismo e alegria. De ser sentido com um deslumbramento cujo valor ninguém podia medir.

A mulher falava e seus olhos corriam guiados pelo desejo. Entreviam na cozinha o pedaço de granito sobre o qual sovaria massas, e as bandejas de salgadinhos congelados arrumadas com jeito dentro do freezer. Seu corpo inteiro se remexia ao falar do seu sonho porque a partir dele moveria um, dois, três, quantos mundos quisesse.

Sonhar é a coisa mais linda que pode acontecer em nós. E os sonhos não podem ser comparados; pois por eles mesmos são todos sempre esplendorosos! Não há sonho maior ou menor: todos os sonhos são grandes. Não há sonho bonito ou feio: todo sonho tem a beleza do desejo de quem sonha. Todo sonho é o maior do mundo, pois é do mundo de alguém. E não há coisa mais empolgante, injeção maior de ânimo e de vida que sentir um sonho: seja sonho nosso, seja de quem for.

Rafael Alvarenga
escritor e professor de Filosofia
ninhodeletras.blogspot.com.br

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