Quem Pensa? Procuramos culpados? Então, compremos espelhos!!!

Essa semana a prefeitura de Resende enviou à imprensa release informando sobre o encontro do prefeito Jose Rechuan com o delegado da 89ª DP. Marcelo Nunes Ribeiro e comandando da PM, Paulo Roberto para pedir “medidas legais” para evitar os transtornos que os rolezinhos têm causado à sociedade. Sei que não falaram isso, mas bem que o comandante ou delegado poderiam ter falado? “Prefeito, jovem não deve ser trabalho de polícia. Jovem tem que ter lazer. São necessárias políticas públicas”.

Claro que é muito mais fácil chamar de vândalos e desocupados os jovens da cidade que não estão no quadrado das medidas legais e principalmente quando estes incomodam. O motivo do pedido do prefeito foram reclamações de amigos (e nem tantos assim, talvez um ou dois) de que no final de semana os grupos de jovens se concentram na Gustavo Jardim, entorno do Resende Shopping e posto de combustível da rua Nunes de Paula e Rafael Antonio Andrea. Eles bebem, fumam, falam alto, namoram, zoam e claro, podem incomodar a família que vai ao restaurante, aos moradores do local, mas a preocupação governamental é com o vandalismo, porque alguns desses jovens também marcam disputas, brigas de grupos. Não houve qualquer ocorrência sobre o “rolezinho”, tanto que o comunicado da prefeitura diz que “a prática tem surgido timidamente em Resende”, o que é mentira, os rolezinhos acontecem há muito tempo na cidade, mas um governo elitista prefere a higienização do que a correta identificação do problema.

O prefeito quer usar a Polícia Militar para tomar conta de adolescente. Deveria ter vergonha de pedir isso ao comando da PM e fazer o seu dever de casa. Ninguém lembrou que ele ganhou um prêmio que diz que é “amigo da criança”? Amigo da criança uma ova! Não existe política pública voltada para esse público. São invisíveis aos olhos do governo que não visita num fim de semana um bairro populoso para ver as poucas alternativas de lazer – ou nenhuma – que estes jovens têm. A Polícia já tem muito trabalho do que ficar fazendo mapas para saber quando os adolescentes irão se reunir. Fala sério. O que é ilegal continua ilegal e nisso a ação da polícia se faz presente, mas Rechuan quer inibir os encontros, evitar os encontros. Do contrário, porque não chamou a Polícia e pediu que identificasse os comerciantes que estão vendendo a bebida para os jovens? Sim, porque a maioria é menor de idade. Por que a fiscalização não acontece na causa que leva os jovens a conseguirem as drogas? Por que não pediu um serviço de inteli
gência para identificar os traficantes que circulam no meio desses jovens oferecendo as drogas.

Agora sobre a zoação, a bagunça própria de encontros entre jovens que podem em alguns momentos passar dos limites e incomodar outras pessoas, porque o prefeito não chamou a juíza da Infância? Por que não chamou o promotor da família? Por que não ouve o que pensam os conselheiros tutelares? Por que não ouve a sua própria Secretaria de Ação Social, de Educação, de Cultura, de Esporte e Lazer? Por que o prefeito não chamou os conselhos municipais da Juventude, da Criança e do Adolescente, de Políticas Sobre Drogas, da Assistência Social, da Educação? Por falar nisso, cadê o tal diagnóstico sobre a criança e o adolescente de Resende que a Votorantim deu dinheiro para ser realizado hein? Até hoje não vi!

Ora prefeito Rechuan, como todo político elitista, sem visão social, você se apega no imediatismo, pois boa parte da sociedade apóia sua decisão de “meter pau mesmo nesses adolescentes que estão virando marginais”. Lemos com frequência nas redes sociais essas expressões de punição, de castigo. Muitas pessoas acreditam, pois a cultura da repressão ainda faz sucesso, que se uns jovens podem ir para o grupo jovem da igreja ou ficar em casa jogando ou tocando violão, todos devem rezar na cartilha do socialmente aceito. Isentam o poder público das responsabilidades. Vergonha alheia sinto com este prefeito que não consegue estabelecer um diálogo com os grupos jovens do município e chama a polícia para garantir o ordenamento.

O artigo 227 da Constituição Federal diz “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, COM ABSOLUTA PRIORIDADE, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los à salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão”. Dá para voltar e ler mais uma vez? Só mais uma vez!

Leu? Então… fica fácil falar que “esses jovens estão sem limites”, “tem que acabar com esses baderneiros”, “bando de vândalos e desocupados, tudo drogado” e por aí vai. É mais fácil culpar os jovens do que assumirmos nossas responsabilidades. Assumir que queremos que as pessoas pensem e ajam como vivemos, porque claro, nos consideramos melhor do que os “baderneiros”. “Cadê os pais desses infelizes?” Somos tão trabalhadores, cumpridores de nossos deveres e ainda temos que ler artigo da constituição que diz que também somos responsáveis por esse bando de filhos de chocadeira? Ahhh não!!! Polícia neles! Rechuan tá certo! #sqn

Ana Lúcia
editora do jornal BEIRA-RIO
analucia@jornalbeirario.com.br

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