Quando crianças, ao menor sinal de perigo, corremos para buscarmos nossos pais.

Nesse estágio da vida acreditamos que eles são capazes de nos livrar de todos os males do mundo. Nossos pais são nossos heróis, nos espelhamos em suas atitudes e suas ações são referências. Ao longo da vida, somos ensinados a respeitar a autoridade e obedecer suas ordens e comandos.

Quando nos tornamos adultos, ainda jovens, nos aconselhamos com eles, ouvimos suas experiências e suas advertências sobre cuidados e cautelas. Apreciamos a sabedoria e consideramos que os anos vividos lhes conferiram um olhar mais maduro e claro sobre as questões do mundo e da existência.

Entretanto, alguns pais ficam tão idosos e tão inoperantes frente à vida que somos levados a cuidar deles como se fossem nossos filhos. E é aí que se inicia a nossa dificuldade em cuidar dos nossos velhos, por mais carinho que tenhamos por eles.

É realmente difícil inverter as coisas e olhar para nossos pais como pessoas que não podem mais nos socorrer, nos ajudar, nos proteger. Ao contrário, são eles que agora necessitam da nossa dedicação, de amor, carinho, cuidado e atenção; muito mais do que pensamos em oferecer. Então, vejo alguns filhos negando tanto esse cuidado como se o ato de assumir o cuidar significasse perder todas as referências construídas até então.

Reconhecer que os pais não podem mais ser os nossos protetores nos deixam com um sentimento de solidão e desamparo. Se não podemos recorrer a eles, quem nos restará?

Por outro lado, os pais se sentem mais e mais fragilizados, mais impotentes e mais desesperançosos perante à vida se necessitam recorrer aos filhos para serem cuidados, pois esses filhos são pessoas a quem sempre olharam como sendo sua responsabilidade.

Diante do exposto, há o embate: os filhos que negam os cuidados para não perderem as referências e os pais que não aceitam esses cuidados para que possam se sentir mais fortes e mais autônomos.

Nesse momento precisamos exercer nossa paciência, entender que a velhice é natural para quem vive muito e que nossas possibilidades no mundo são limitadas. Inicia-se a era do olhar inverso, do reconhecimento de que precisamos fazer por alguém a quem amamos tudo o que um dia foi feito por nós.

E para que esse sentimento de abandono não nos abata, devemos desde sempre entender que o sentido da vida é cuidar e ser cuidado, proteger e ser protegido, amparar e ser amparado. É assim que nos ressignificamos: a retribuição através da generosidade e do amor.

Ângela Alhanati
contato@angelaalhanati.com.br
Livre Pensadora exercendo seu direito a reflexão

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