Trabalho reconhecido em Mariana

mariana2Em dia 5 de novembro do ano passado, todo o Brasil viu uma tragédia ambiental de grandes proporções atingir Mariana/MG: o rompimento de uma barragem mantida pela mineradora Samarco, que afetou o rio Doce, que banha o município, além de deixar 944 vítimas no município, e também atingir outros 13 municípios de Minas Gerais e três do Espírito Santo.

Ao saber daquela que viria a ser a maior catástrofe ambiental da história do país, o resendense Douglas Santanna (foto) – que representa várias instituições não-governamentais de ajuda humanitária, entre elas o Centro Logístico Humanitário Nacional e a Federação Latino Americana de Capacitação e Treinamento para Desastres, este último com sede no México – entrou em contato com as autoridades locais e foi para o município mineiro dois dias após a tragédia.

— Saí daqui em 8 de novembro, umas 6 horas, e cheguei lá por volta das 14 horas. No dia seguinte (dia 9), comecei a implantar minha metodologia dentro do Centro de Convenções do município – conta o voluntário, que passou a ser o coordenador responsável pela logística geral de armazenagem e distribuição dos donativos.

Douglas explica que ao chegar em Mariana, percebeu que o município havia recebido um grande volume de doações, mas que não havia gente capacitada para acondicionar todo o material. “Era muita falta de informação, a quantidade de necessitados era muito alta (fora as 944 vítimas de Mariana, mais 13 municípios mineiros e outros três do Espírito Santo haviam sido afetados com a lama que invadiu as águas do rio Doce, inviabilizando o uso de seus recursos naturais) e havia localidades também prejudicadas que não estavam sendo beneficiadas”.

Uma vez instalado no município e iniciado os trabalhos, Douglas solicitou que tanto a prefeitura local quanto a mineradora e a Comissão das Vítimas da Barragem acompanhassem todo o trabalho realizado por ele.

— Ao todo, conseguimos arrecadar 180 toneladas de alimentos, mais 200 toneladas de roupas e 300 mil litros de água. Além de atender a toda a população de Mariana, também incluímos aquelas pessoas em situação de vulnerabilidade social e outros municípios também afetados pela lama que ficaram sem água ou que recentemente foram atingidos pela chuva (um deles foi a vizinha Sabará) – cita Douglas, relembrando o destaque recebido por Mariana na imprensa após ajudar esses municípios.

O trabalho de logística dos donativos realizados em Mariana, que contou com os apoios da prefeitura local, da mineradora e de uma empresa terceirizada, reuniu ao todo mais de 1,5 mil voluntários que ajudaram, sendo que desses, 50 estão empregados. “A imprensa europeia ficou impressionada com a parceria realizada, segundo os jornalistas de lá, eles nunca viram nada igual”, responde o voluntário.

Douglas aproveita para descrever sua metodologia. “Os repórteres ficaram na verdade impressionados com o trabalho, considerado de referência porque tudo quanto era donativo que entrava ou saía, a gente sempre controlou. O desperdício foi zero, pois as roupas eram reformadas com a ajuda das igrejas, o que não dava para ser aproveitado foi para a reciclagem”.

O trabalho voluntário, na verdade, foi realizado em prol de 277 famílias atingidas pelo desastre ambiental de Mariana desde o anúncio do rompimento da barragem até o último dia 29 de janeiro, quando estava prevista a transição destas dos abrigos provisórios para as residências alugadas através de um acordo entre o Ministério Público, a mineradora Samarco e a Comissão das Vítimas, até que haja uma solução definitiva de moradia para essas famílias.

Para a estocagem adequada dos mantimentos, foram montados três armazéns improvisados: um para atendimento e distribuição e os outros dois para estocagem de água, roupas e calçados. “Para que as pessoas pudessem se beneficiar desses donativos com a retirada deles, elas eram obrigadas a fazerem o cadastro na Defesa Civil ou na Samarco. E no caso de chegada de alguma doação, o mesmo era registrado também. Isso tudo foi realizado para que pudéssemos ter um maior controle das doações”, frisa Douglas.

A temporada do voluntário em Mariana se encerrou no dia 29 de janeiro, e Douglas retornou no dia seguinte a Resende para rever a família. “Voltei para fechar o relatório, que ainda será apresentado em Mariana, mas agora em fevereiro estou retornando para ficar a frente dos trabalhos até o próximo. E hoje estou contratado, pois tive o meu trabalho reconhecido por lá”, conclui o voluntário, que também esteve trabalhando em prol das vítimas da forte chuva na Região Serrana Fluminense, em 2011, e no Espírito Santo, em 2013.

COLEGA NÃO CONHECIA MÉTODO IMPLANTADO
— Na verdade, eu nem sabia que existia esse tipo de trabalho, quando o Douglas mostrou a metodologia da qual ele trabalhava, isso nos ajudou bastante na organização dos donativos, pois quando aconteceu a tragédia, vieram caminhões de todo o país trazendo todo tipo de doação. Se não fosse por essa dedicação dele, não conseguiríamos dar conta de tanta roupa ou alimento doado – diz o subprocurador do município de Mariana, Juliano Barbosa.

Ele acompanhou todo o trabalho de ajuda aos moradores atingidos pelo rompimento da barragem ao lado do voluntário resendense e fala sobre a eficácia do método adotado por Douglas. “Com essa metodologia, tivemos a facilidade de pegar produtos que estavam com a data de vencimento próxima e destiná-los para asilos e outras entidades filantrópicas, as roupas que vinham rasgadas ou descosturadas a gente fazia um trabalho conjunto com as igrejas para reformá-las. Com isso, conseguimos dar uma destinação a 99% dos donativos”.

O subprocurador também aproveita para elogiar o colega resendense. “O Douglas é um cara brilhante que vocês (resendenses) têm aí na sua cidade, um tipo de ser humano muito raro de se encontrar hoje”, conclui Juliano.

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